Paulo César de Oliveira

A briga desenfreada pelo poder

Ataques entre candidatos indicam eleição de baixo nível


Publicado em 25 de janeiro de 2022 | 03:00
 
 
 
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Na sua larga experiência política, o saudoso ex-governador Hélio Garcia – quanta falta faz ao país – dizia que eleição só se define após a Parada de Sete de Setembro. Antes disso, justificava, é assunto que interessa só aos políticos que ficam a discutir o assunto apenas para terem espaço nos noticiários. Hoje, para criar fakes e agredir adversários. 

O que se vê hoje confirma inteiramente o que dizia Garcia, o homem de confiança de Tancredo. Já se previa que esta será uma eleição disputada num nível bem rasteiro, mas o que estamos assistindo nos últimos dias mostra que o nível será bem mais baixo do que imaginávamos. Num patamar que interessa, e muito, a Lula e Bolsonaro, que, pelo alto índice de rejeição que apresentam, operam para impedir a consolidação da chamada “terceira via”, pesadelo de ambos num confronto de segundo turno. Assegurar a polarização é estratégia das duas campanhas.

Lula já abriu baterias contra Moro, chamando-o de “canalha”, numa tentativa de desmoralizar quem o condenou por corrupção. Moro respondeu com veemência que canalha é quem roubou o país e seu povo. Bolsonaro já deu suas estocadas em Moro, mas deve deixar o serviço sujo para seu filho Carlos, que deve comandar a campanha na internet.

O presidente tem cuidado mais de cutucar o governador João Doria, que abriu um enorme clarão na selva política ao confrontar o presidente e seus asseclas, saindo na frente no enfrentamento da Covid-19 por meio da vacinação, que Bolsonaro despreza. Doria – que impulsionará sua campanha após desincompatibilizar-se e começará pela Bahia, seu Estado natal – tem a seu favor o bom desempenho de seu governo em São Paulo.

A terceira via tem ainda o nome de Ciro Gomes, que, pelo visto, não assusta a ninguém e ficará livre das críticas e acusações dos outros candidatos, especialmente Bolsonaro e Lula, que deverão aumentar o tom de suas campanhas. Sem, pelo visto, motivar o eleitor. E é bom lembrar que neste ano teremos Copa do Mundo. Se a disputa presidencial não tem mexido com o eleitor, menos ainda as disputas para os governos estaduais e para os Parlamentos.

Há muita futrica entre os políticos, mas um silêncio ensurdecedor entre os eleitores, que parecem desconhecer solenemente essas disputas. Talvez pela frustração das eleições de 2018, quando os brasileiros foram às urnas convictos de que iriam, com seus votos, mudar o país. Conseguiram, é verdade, mas mudar para pior.

Essa apatia e desesperança do eleitor talvez expliquem a ganância dos políticos, que os leva a defender, sem o menor escrúpulo, num momento de grande crise social, um impensável Fundo Eleitoral de R$ 5,7 bilhões. Dinheiro para fazer uma grande farra e, quem sabe, motivar o eleitorado a manter tudo como está. Até porque mudar ninguém quer.

 

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