Estamos a exatos dois meses das eleições, uma das mais polarizadas e radicalizadas dos últimos anos. A disputa, sem qualquer chance de se alterar, será entre Lula – que pode levar no primeiro turno – e Bolsonaro – que, quando assumiu, garantiu que não disputaria uma segunda eleição.
O governo Bolsonaro, se analisarmos sem paixões, levando em conta os problemas que enfrentou em sucessivas crises mundiais, pode ser classificado como bom. Porém, Bolsonaro fala tanta bobagem, mostra-se tão despreparado politicamente, como neste enfrentamento sem sentido com o Supremo Tribunal Federal (STF) e as “denúncias” sem prova contra o sistema eleitoral brasileiro, que atrapalha seu próprio governo, gerando insegurança e assustando seus aliados mais sensatos.
O presidente se cercou de radicais despreparados que acabaram por levá-lo a passar a depender desesperadamente do que há de pior na política brasileira: a elite da esperteza que, na campanha de 2018, jurou combater.
A julgar pelos resultados das pesquisas, Bolsonaro tem poucas chances de reverter o resultado. O que não quer dizer que Lula já venceu. É preciso ver qual será o resultado da PEC da Compra de Votos e também os efeitos da queda no preço da gasolina e do etanol. Definido mesmo está que a disputa será apenas entre eles, sem chances de surpresas de outro candidato.
Também vão perdendo força as articulações e, mais do que isto, as especulações em torno de um golpe. Há um amadurecimento das instituições civis e também das Forças Armadas, que não mostram coesão em torno de uma possível aventura golpista.
Enquanto Bolsonaro tenta corrigir seus desatinos políticos, se escorando nos evangélicos e apostando na velha e surrada distribuição de bondades, Lula avança nas classes empresariais, tendo seu vice, Geraldo Alckmin, como avalista, assim como foi o saudoso José Alencar Gomes da Silva. Lula já não desperta nas classes produtoras os receios de anos atrás. Lula, ao que dizem alguns dos seus mais chegados, tentará fazer um governo do qual saia consagrado para a história deste país.
Mas, se a disputa presidencial está com contornos definitivos, podendo até ser decidida no primeiro turno, as disputas estaduais estão ainda muito tumultuadas. Muitas candidaturas são apenas hipóteses, seja por inviabilidade evidente, seja pela falta de entendimento nas composições partidárias.
Impressiona, aos que acompanham com mais atenção a vida política brasileira, a inconsistência ideológica dos partidos, que são apenas instrumentos de manipulação de grupos políticos, mais interessados em controlar os absurdos valores dos fundos partidários do que em “fazer política” que possa interessar ao povo. Neste quadro, beira o ridículo tachar um partido de direita ou esquerda. São todos, todos mesmo, com uma única ideologia: ter o poder.