Paulo César de Oliveira

A inflação que nos corrói

A realidade que a estabilidade permitiu está ruindo


Publicado em 19 de outubro de 2021 | 03:00
 
 
 
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A inflação voltou a ser o assunto do brasileiro. Durante muitos anos, desde que Itamar Franco decidiu enfrentar o problema de toda a vida no país, liderando um plano ousado que domou a inflação no país – embora algumas vezes ela tenha dado sinais de vida –, a inflação não foi o assunto principal do povo brasileiro. A estabilidade permitiu sonhos – alguns conseguiram realizá-los – e até uma melhoria visível nas condições sociais do país.

Voltou a ser assunto, pois esses sonhos e as realidades que eles construíram estão ruindo. A inflação já assusta pelas consequências que ela gera, a maior delas, a fome e a desesperança, em um número cada vez maior de brasileiros.

Assusta a inflação, mas assusta muito mais a passividade do governo e principalmente do presidente Bolsonaro, hoje mais preocupado com uma, cada dia mais distante, reeleição. Não se vê no governo nada que faça imaginar uma estratégia para enfrentamento da inflação, a não ser transferir a culpa de todos os problemas para os governadores, acusando-os de terem desarrumado a economia com suas ações de combate a pandemia. Não se ouve no governo nenhuma voz sensata, não se enxerga ninguém com perfil para liderar um processo de recomposição da economia e domínio da inflação.

Até o ministro Paulo Guedes, o nome de confiança da elite econômica, perdeu espaço e confiabilidade. O governo perdeu a confiança da maioria dos agentes econômicos e do povo em geral. Só lhe resta hoje o apoio dos fanáticos lunáticos que antes de serem uma solução, são um problema. Bolsonaro precisa enxergar isto e colocar o país acima do projeto de reeleição. Agindo assim, quem sabe consegue até retornar com alguma força ao processo eleitoral.

Inflação, temos experiência disto, não é um processo que se controla do dia para noite, nem é algo que se possa declarar extinta por decreto.

A experiência do Plano Real, estruturado por economistas e assumido por Itamar Franco e Fernando Henrique, é única. Até porque falta ao país alguém com capacidade de liderar mudanças, como tiveram Itamar e Fernando Henrique. Ao contrário, temos hoje carência de políticos de credibilidade e vivemos uma fase de belicosidade, onde políticos são incapazes de dialogar e julgam poder impor suas vontades que, normalmente não combinam com as necessidades do país.

Ou mudamos nosso comportamento, nosso modo de fazer política, ou vamos agravar ainda mais nossa situação econômica.

Vivemos num mundo imaginário onde alguns enxergam uma recuperação econômica do país que existe apenas nos números produzidos por institutos de pesquisas oficiais e comprometidos, Números que não são vistos nas ruas onde, ao contrário, o que se enxerga é pobreza e desesperança.

Reage, Brasil. Mas a reação tem que vir pela sensatez, pelo diálogo, não pela insensatez do discurso totalitário.

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