Paulo César de Oliveira

Está passando da hora

O país está precisando de um “freio de arrumação


Publicado em 04 de agosto de 2020 | 03:00
 
 
 
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Alguém precisa avisar ao presidente Jair Messias Bolsonaro, ou quem o está substituindo, enquanto ele cuida, nos palanques, das articulações visando sua campanha para tentar a reeleição, que o país está precisando de um “freio de arrumação” urgente. Não aquele tão a gosto dos motoristas de coletivo, aquela freada rápida, para organizar os passageiros em pé.

Precisamos, sim, de uma freada firme para reorganizar tudo, inclusive definir um itinerário para o Brasil que hoje, usando uma expressão popular bem definidora, está “como cachorro que caiu de mudança”, sem saber para onde ir. Bolsonaro precisa ter consciência disso. Não que ele possa fazer isso sozinho, afinal, ele é apenas o presidente da República, não um imperador – como pensam seus fanáticos seguidores –, que possa fazer tudo sozinho. Mas ele foi eleito para liderar, não comandar, um processo de mudança no país e precisa começar a fazer isso com urgência, antes que seja impossível fazê-lo de forma pacífica.

Ninguém governa com os radicais a não ser, claro, que os use para criar um propositadamente ambiente de conflito como parece que estão tentando alguns, se não com o estímulo do presidente, pelo menos com a sua complacência.

Até quando agirão sozinhos esses radicais? Há de se chegar a um momento em que a oposição, até para se defender, terá que se reorganizar e passar a lutar com as mesmas armas. Exatamente como está fazendo o presidente que, estrategicamente, suavizou seu discurso de confronto contra aquilo que prometeu mudar e se aliou politicamente ao que jurou combater e assumiu as armas do populismo, fazendo uso político daquilo que é uma das obrigações do Estado: suprir carências dos mais necessitados nos momentos de calamidade.

Distribuir dinheiro, mesmo que num momento de necessidade, é uma bela ação política que, no caso do presidente, já apresenta resultados eleitorais interessantes, como no Nordeste do país. Mas isso não basta. O Brasil vai precisar de muito mais do que passar mel na boca dos necessitados para tentar se recompor econômica e socialmente no pós-pandemia. A começar por definir um projeto e um programa de governo o que, a cada dia fica mais claro, o governo não tem.

Nem mesmo o posto Ipiranga Paulo Guedes possui – agora chamado de “Imposto Ipiranga”, de tantos impostos quer enfiar no sofrido brasileiro –, apoiado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Foi eleito com um discurso do anti, sem dizer com clareza o que pretendia no pró. Nem mesmo o combate à corrupção – Sergio Moro saiu porque viu que não conseguiria fazer aquilo o que se propôs –, que era a maior esperança do povo, o governo não manteve como compromissos de campanha. Basta ver com quem passou a andar.

E aí é hora de recordarmos outra velha lição popular: diga-me com quem andas que te direi quem és. Enquanto é possível, o presidente precisa agir. Nem que seja delegando para alguém fazer, precisa dar um rumo ao país, num grande entendimento com os outros Poderes e com a sociedade. Um entendimento que seja capaz de isolar os seus radicais que, se hoje são estimulados por ele, amanhã, como está fartamente documentado na história, serão pedras em seu sapato. Esse medo já começa a dominar alguns segmentos.

As disputas municipais, que a partir deste mês começam a ganhar corpo, serão, pelo que se desenha, um momento de radicalização política. Bolsonaro, que havia anunciado que ficaria fora desse processo, parece ter se entusiasmado com o crescimento de seu nome entre a população mais pobre, tradicional reduto petista, ganhou alma nova e se mostra disposto a entrar na disputa, o que significa acirramento, jogo pesado nas redes sociais. Ruim para o país, que verá crescer o ódio e a desunião num momento em que necessita, desesperadamente, de paz para conseguir definir um rumo. Infelizmente esta é a verdade que nos espera.

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