O lançamento da pré-candidatura de Sergio Moro – por enquanto pré, pois ninguém sabe o que acontecerá, já que muitos trabalham para tornar o ex-juiz inelegível – coloca uma cunha na polarização da disputa pela Presidência, mas em nada diminui o clima de radicalização das campanhas.
Moro tem um perfil autoritário, e seus principais adversários até aqui – ou melhor, os únicos já conhecidos – têm a mesma postura, agravada ou radicalizada, pelo fato de terem ressentimentos pessoais em relação a ele. De Bolsonaro e Lula não se pode dizer que são adversários de Moro. São, na realidade, inimigos pessoais e vão atacá-lo com virulência. A resposta, pelo que se conhece até aqui dos meandros das campanhas, será em outro tom.
É que Moro é, repito, até aqui, um candidato de discurso único, o de combate à corrupção. Discurso que deverá usar contra qualquer adversário que cruzar seu caminho. Mas o que interessam ao país discursos polêmicos, autoritários e plenamente vazios de conteúdo e sem buscas de consenso? Os radicais já se mostraram ineficientes, e os “conchaveiros” – que não buscam consenso, mas apoio, não importando o preço – nocivos ao país. Tão nocivos que incutiram na cabeça do eleitor que a política é ruim, destrutiva e que arrasta o país para a lama. Sim, a política é tudo isto quando feita por maus políticos, ou por não políticos, aventureiros que criam discursos demagógicos e vendem esperança do tipo acabar com a corrupção e com a violência.
Precisamos voltar à prática da boa política que tem, sim, imperfeições, mas que é a única forma de recolocarmos o país nos trilhos do desenvolvimento. O surgimento de uma nova alternativa na disputa presidencial do ano que vem é, por isto, essencial. Alguém com capacidade de arregimentar apoios a um projeto de país, construído em consenso com todos os segmentos da sociedade e que não seja fruto de interesses de grupos privilegiados. Enfim, um líder.
Desnecessário aqui citar nomes – até pelo risco de cometermos injustiças – de políticos que conseguiram pela coragem e diálogo promover verdadeiras revoluções em suas cidades, Estados ou mesmo no país. Políticos com capacidade de articulação, não meros gerentes da coisa pública.
Infelizmente, estamos assistindo à destruição da figura do político, até mesmo por seus partidos. Até aqui, poucas legendas – o PSDB talvez seja o exemplo mais real – têm buscado em seus quadros nomes capazes de se apresentarem como políticos com capacidade de diálogo para a disputa presidencial. O MDB também fala em lançar um nome, mas o mais provável é que termine alinhando-se a uma candidatura que veja com mais chances de vitória. Exatamente como tem feito.