Dizem que muitas frituras que acontecem no governo federal começam nos corredores mais íntimos do Palácio do Planalto. Há exceções, claro, como o caso da demissão de Vicente Santini, o ex-número 2 do ainda ministro Onyx Lorenzoni, que pulou publicamente na panela política com gordura fervendo ao requisitar um avião da FAB e ir a Davos e à Índia com duas assessoras, irritando o presidente, que o demitiu pela televisão.

Pressionado pelos filhos, Bolsonaro chegou a readmitir Santini e demiti-lo novamente. Acabou ganhando pontos com a população pela manobra política mal explicada. Mas, numa máquina gigante como é o governo federal, coisas podem – e certamente acontecem – fugir ao controle do presidente, que, muitas vezes, toma conhecimento delas pelo cheiro da fritura. 

Nessa panela ainda permanece o ministro Lorenzoni, que ganhou uma sobrevida. A fritura dele, pelo que se sabe, não tem relação com malfeitos. É pela disputa por espaço político junto ao presidente e envolveria a ala militar, que busca mais poder. Se resolver ceder às pressões, Bolsonaro poderá reduzir o impacto da substituição, colocando-a no pacote de mudanças que, especula-se, fará em sua equipe.

O presidente, dizem alguns de seus mais próximos, deverá manter nos cargos aqueles que estão trabalhando: como Guedes, Bento Albuquerque, Tereza Cristina, Tarcísio de Freitas e mais alguns poucos.

Ele já sonha com a reeleição, por isso tem que apresentar resultados para o povo, mas precisa também fazer as armações políticas que lhe permitam consolidar uma base já nas disputas municipais deste ano. Cargos de menor destaque poderão ser destinados às indicações políticas.

A eleição de 2022 está nas ruas, posta pelo próprio Bolsonaro. Aparece o governador João Doria (SP) pelo trabalho que vem realizando e conquista apoios Brasil afora com seu discurso desenvolvimentista.

Em Davos, na reunião do Fórum Econômico Mundial, viabilizou bilhões em investimentos para São Paulo e, nesta semana, levará um grupo de empresários para Dubai e Abu Dhabi em busca de parcerias.

Mas não é apenas Doria que caminha. Outros nomes começam a aparecer – até mesmo o de Sergio Moro. Isso obriga o presidente a agir.

A questão é saber qual será a influência da disputa presidencial nos palanques, sem muito acanhamento, nas eleições municipais deste ano. Em BH, o prefeito Alexandre Kalil vai marcando sua posição de franco favorito, desanimando o surgimento de outros nomes.

Em outras capitais, no entanto, presidenciáveis buscam marcar posição articulando candidaturas. É esperar para ver.

No Legislativo, o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, pavimenta o caminho para mais um mandato e tenta resgatar a imagem do parlamentar – muito desgastada por tudo que sabemos. E também pensa na Presidência da República ou, quem sabe, numa vice, mesmo sabendo que sua eleição para deputado federal pelo Rio foi apertada. Mas não custa sonhar.

Afinal,Fernando Henrique, que parece estar gagá, fala e acredita em Luciano Huck para a Presidência. É a política que segue. Em quatro meses, no máximo, o Brasil para, abrindo espaço para as eleições. Talvez por isso deveria haver coincidência dos mandatos.