Os resultados das eleições do mês passado não trouxeram muitas surpresas e confirmaram o que já se esperava: eleitores buscando algo novo e reprovando a velha política, sinônimo de corrupção e inépcia.

Os avisos das ruas em 2013 tomaram a forma de votos por mudanças. Os partidos tradicionais perderam espaço no Congresso, nas Assembleias e no comando de governos estaduais, e a Presidência da República foi entregue a um político tradicional, com mais de duas décadas na Câmara dos Deputados, mas que soube ouvir o clamor popular por mudanças e simbolizá-las na oposição ferrenha ao PT e à esquerda e no combate à corrupção.

Os debates no período eleitoral reforçaram a tendência no voto contra: quer contra a corrupção, contra o PT, contra os partidos, contra os políticos, quer contra o fascismo e contra Bolsonaro, como na expressão #Elenão. Pouco se soube das propostas dos candidatos para tratar dos temas complexos do país.

Agora, chegou a hora e a vez do exercício da atividade política visando ao bem comum. Na democracia, a ação pública é feita por meio de agentes políticos, que, segundo o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, são o presidente da República, os governadores, os prefeitos e respectivos vices, os ministros e secretários das diversas pastas, os senadores, deputados federais e estaduais e vereadores, que formam a vontade superior do Estado. Por consequência, o vínculo desses agentes com o Estado é de natureza política e não de natureza profissional.

Assim, o propósito da formação de uma equipe de profissionais, cuja relação com o Estado será de natureza institucional, estatutária, não os eximirá de suas principais atribuições circunscritas ao âmbito da atividade política; isto é, são políticos pela natureza da atividade, independentemente de suas experiências pregressas ou da não filiação a um partido político. A separação entre político e profissional ou técnico é puramente semântica, reservada à representação simbólica da política.

Simbolismo e oportunidade são duas importantes dimensões da atividade política. Simbolismo refere-se à forma como fatos, palavras ditas ou omitidas, gestos e atos são interpretados pela sociedade, e oportunidade diz respeito ao uso correto do tempo na tomada de decisão.

Na formação de seu ministério, Bolsonaro tem se utilizado dessas duas dimensões com maestria. Vejamos no caso da escolha do juiz Sergio Moro como ministro da Justiça e Segurança Pública. O presidente foi rápido para buscar uma personalidade que pudesse expressar a competência profissional na área e que, simbolicamente, significasse o compromisso de seu governo com o combate à corrupção e ao crime organizado.

No entanto, não tenho a mesma avaliação quanto à decisão do juiz Moro. Parece-me que ele usou o tempo precipitadamente, talvez para não perder a atraente oportunidade que lhe foi apresentada, sem avaliar em profundidade o simbolismo de sua decisão. Moro deixou abertas interpretações que comprometem não suas decisões como juiz, mas seus objetivos como político. A falta de transparência em relação à cronologia de seus contatos com a equipe do ainda candidato Bolsonaro, conforme comentou Elio Gaspari, foi uma chaga aberta na independência de sua autoridade na representação do Estado, no futuro próximo. Agora Sergio Moro faz parte do projeto Bolsonaro, não o contrário.

Parece que a política do novo governo começa com a velha sabedoria demais e a grandeza que o tempo requer de menos.