Daqui a 13 dias fecham-se as portas da segunda década deste século. O crescimento da economia foi o pior dos últimos 120 anos. Conforme estudo da Fundação Getulio Vargas, considerando retração de 4,4% neste ano, a média do crescimento nos últimos dez anos não passará de 0,2%, e a renda per capita encolherá 0,6%.
O auge da expansão da economia brasileira foi nas quatro décadas que vieram imediatamente após o final da Segunda Guerra Mundial, de 1941 a 1980. Nesse período a renda per capita acumulou ganhos decenais médios de 4,2%, acima da média mundial e dos países hoje chamados “emergentes”. Esse ciclo acabou em recessão (1980), desequilíbrio fiscal, aumento da dívida externa e hiperinflação.
Nos 40 anos seguintes, de 1981 a 2020, a renda per capita somou, em média, anualmente mero 0,5%. Nesse período a produtividade estagnou-se, e o crescimento demográfico desacelerou-se. No entanto, nem tudo foi perdido nesses anos. O Plano Real domou a inflação, e a expansão de 2004 a 2010 promoveu intensa inclusão social.
Uma das consequências do desempenho pífio da economia nesta década é a perda de posição relativa do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), na comparação internacional. Mesmo tendo leves ganhos, o IDH caiu da 79ª para a 84ª posição, em 2019.
Neste século, a economia voltou a perder potência mais ainda, em 2011, mergulhando na recessão (2015-2016), cuja lenta recuperação (de 2017 a 2019) foi interrompida pela pandemia, que provocou, neste ano, a maior queda histórica do PIB. O déficit público e a dívida do governo crescerem desordenadamente.
Em 2020, a politização da crise paralisou o país diante do falso dilema “salvar vidas ou salvar a economia”. Com o presidente omisso e focado apenas na reeleição, o governo, errático, não implantou um programa de reformas econômicas que preparasse a economia para sua recuperação, tampouco coordenou um plano nacional de ações para conter a disseminação da Covid-19.
A pandemia escancarou a incompetência administrativa e a politização diante das crises sanitária e econômica. Sem coordenação nacional, o país chega ao final do ano sem uma vacina aprovada e sem um plano factível de vacinação. Ao contrário, vê-se a irresponsável e mesquinha disputa entre o governo federal e o de São Paulo. As lideranças políticas conseguiram desacreditar a reputação da Anvisa, do Plano Nacional de Imunização (PIN), do SUS e até de instituições centenárias, como os institutos Butantan e Oswaldo Cruz. Da negação da gravidade da pandemia à tentativa do tratamento com drogas não recomendadas pela comunidade científica, à politização criminosa sobre a distribuição da vacina, a sociedade assiste a cenas de um show de aberrações.
Com o país mais pobre, sem empregos, chorando os 190 mil mortos pela Covid-19 e exposto ao personalismo populista de Jair Bolsonaro, a década termina melancolicamente, sem deixar saudades.