O último presidente da República Velha, Washington Luís, afirmou que “governar é construir estradas”. Síntese da visão desenvolvimentista de quem havia anteriormente presidido o próspero Estado de São Paulo. Depois da Segunda Guerra Mundial, o presidente Juscelino Kubitschek, que havia governado com sucesso e criatividade Belo Horizonte e Minas Gerais, seguiu na mesma linha, estabelecendo um plano de metas com base no binômico energia e transportes. Para ambos, governar era construir infraestrutura para que um país de base agrícola pudesse crescer e transformar sua economia em um complexo urbano-industrial.

O Brasil se urbanizou, sua população aumentou, sua economia se diversificou com extraordinário crescimento dos anos 50 aos 70. Tudo, contudo, aconteceu em um ambiente político de crises e com aumento das desigualdades sociais.

No ambiente do final da década de o80, restabeleceu-se a democracia representativa por meio de uma nova Constituição, cujo preâmbulo afirmava a instituição de “um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias”.

Governar este país tornou-se, então, um desafio complexo, exigindo a habilidade para construir consensos e angariar apoios para a execução de planos e programas que pudessem atender os diversos princípios.

Governar com expansão das demandas de todos os setores da sociedade passou a exigir capacidade para definir prioridades e para fazer escolhas dentro das restrições orçamentárias buscando o equilíbrio da eficiência da economia com a inclusão e a paz social. 
Abriu-se um enorme fosso entre os naturais conflitos e debates das campanhas eleitorais com a necessidade de conciliação e de formação de alianças para governar. Nos períodos democráticos, foram exitosos os presidentes que tiveram habilidade política e lucidez da antevisão do futuro. JK foi o principal deles, ao promover as maiores transformações estruturais no país, respeitando os princípios democráticos e governando sem ódio – concedendo, inclusive, anistia aos militares que tentaram derrubá-lo. 

Outros, como Fernando Henrique e Lula, em condições diferentes, conseguiram concluir seus mandatos e transmitir a presidência para seus sucessores. Entre JK e os outros dois, crises políticas interromperam a democracia e os mandatos dos presidentes eleitos.

Vive-se agora enorme desafio para reorganizar a economia, refundar o Estado e promover a paz interna. Nesse contexto, governar não é espalhar o ódio e a cizânia. Governar hoje é agir respeitando a Constituição Federal, sem bravatas e sem rancor.