PAULO PAIVA

Futuro incerto

O mundo vive sua mais complexa crise desde o final da Segunda Guerra Mundial


Publicado em 27 de setembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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O mundo vive sua mais complexa crise desde o final da Segunda Guerra Mundial. O período do pós-guerra foi um tempo de reconstrução da Europa e do Japão, que impulsionou o crescimento econômico, e de fortalecimento institucional, tendo como alicerces a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e o restabelecimento da democracia no hemisfério ocidental.

A ONU passou a ser o locus das negociações pela paz e pelo desenvolvimento por meio de negociações multilaterais. O multilateralismo floresceu também no sistema financeiro com a constituição do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.

Não que tudo fosse rosa. Os conflitos no fim da colonização na África, a Guerra Fria e suas consequências e as tensões no Oriente Médio são exemplos dos custos para reconstruir a paz no mundo.

No plano do desenvolvimento houve muito avanço, como o aumento expressivo da renda per capita média e do bem-estar dos povos e as conquistas do progresso tecnológico e do reconhecimento dos direitos humanos. Os avanços tecnológicos das comunicações e a ampliação do comércio internacional fortaleceram a globalização e a universalização dos padrões de consumo e das aspirações por ascensão social. No entanto, as desigualdades persistiram e, em algumas partes, cresceram. 

O multilateralismo começou a ser abalado neste século após o enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC), braço da ONU, e à entrada da China no fluxo de comércio internacional.

As inovações da tecnologia digital facilitaram a transparência nas comunicações, desnudaram as relações obscuras dos porões da corrupção e, ao colocarem o eleitor em contato permanente e em tempo real com seu representante, ruíram as bases da democracia representativa, substituindo os partidos políticos pelas redes sociais. Em consequência, as instituições, que haviam sido consolidadas anteriormente, entraram em crise de legitimidade.

Dois movimentos tomam corpo atualmente mundo afora: o globalismo. Uma resistência à globalização e ao multilateralismo, como expressou Trump em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, na última terça-feira, seguido pelo deslumbramento de Bolsonaro com essas ideias, afastando-se, assim, da tradição multilateralista da diplomacia brasileira. Prosperará uma nova onda nacional-populista no mundo?

E a judicialização da política. Os efeitos na rapidez das transformações tecnológicas põem em xeque a estabilidade do arcabouço constitucional das nações. As novas demandas políticas estão abalando as estruturas das instituições, buscando guarida, cada vez mais, nos tribunais superiores de Justiça, quer aqui no Brasil, quer, por exemplo, no Reino Unido, onde a Suprema Corte sustou a iniciativa do primeiro-ministro de fechar o Parlamento para concluir a seu modo o Brexit.

Sem multilateralismo e instituições democráticas sólidas a ONU não sobreviverá. O que virá depois?

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