PAULO PAIVA

O mundo corporativo despertou

Nunca economia e política estiveram tão intimamente entrelaçadas, estimulando, inclusive, o reposicionamento político dos executivos de empresas privadas mundo afora


Publicado em 23 de abril de 2021 | 03:00
 
 
 
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O século XXI começou sob o signo da insegurança e das incertezas, após ataque terrorista destruir as torres gêmeas em Nova York e atingir a sede do Pentágono em Washington, revelando a fragilidade do sistema de segurança da cidadela do Ocidente.

A democracia representativa, que já estava dando sinais de sua incapacidade para garantir os direitos humanos, expressos na Declaração Universal das Nações Unidas de 1948, recentemente, vem sendo corroída pela corrupção e pela ascensão de governos extremistas e intolerantes, que põem em risco a busca de convergências de opiniões e de construção de soluções negociadas e o respeito às instituições.

Já ameaçada pela ampliação da desigualdade na distribuição de renda entre e no interior dos países e pela devastação do meio ambiente, a expansão da economia capitalista ficou mais incerta. Novo ciclo de crescimento econômico sustentado dependerá da capacidade das políticas públicas articularem o controle da emissão de dióxido de carbono com a inclusão social, em um contexto de acelerada revolução digital, caminho para o renascimento do capitalismo.

Após duas décadas, uma pandemia inesperada aumentou a insegurança e as incertezas, tornando mais incerto ainda o crescimento futuro da economia, pois as políticas macroeconômicas passarão por período desafiador para corrigir os desequilíbrios ocasionados pelos elevados gastos exigidos pelos impactos da crise sanitária.

Nunca economia e política estiveram tão intimamente entrelaçadas, estimulando, inclusive, o reposicionamento político dos executivos de empresas privadas mundo afora. No âmbito do World Economic Forum surgiu o movimento para a reinvenção do capitalismo com foco nos compromissos com os stakeholders, e não apenas com os acionistas, como foi na concepção até então vigente, inspirada por Milton Friedman. Nos Estados Unidos, neste mês, um grupo de CEOs de grandes corporações divulgou manifesto em defesa da democracia, criticando proposta de lei do governador da Geórgia que limitaria o direito de voto dos negros. Aqui, no Brasil, empresas se uniram aos representantes da Academia e às instituições representativas do agronegócio e do meio ambiente para pedir ao presidente Jair Bolsonaro metas mais audaciosas para o controle do desmatamento.

Estão se tornando mais frequentes os compromissos das empresas com valores éticos e ações embasadas no bem-estar da sociedade, e não somente na geração de seus lucros, e de seus executivos em defesa da democracia, da sustentabilidade ambiental e da inclusão social.

Neste século de incertezas, empresas com novos propósitos e executivos com propósitos públicos são as novidades no mundo corporativo, que passou a compreender que o futuro dependerá do bem-estar de todos e que a responsabilidade para construí-lo não é apenas do Estado, mas de todos, solidariamente.

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