Na tradição da Igreja Católica, hoje realiza-se cerimônia solene do sermão das sete palavras. Consta que essa tradição começou em 1660, quando o sacerdote jesuíta Francisco del Castillo fez uma pregação de três horas, na Sexta-Feira da Paixão, na qual comparou o sofrimento de Cristo ao sofrimento dos escravos e dos indígenas. Até hoje, nesta ocasião, pregadores católicos fazem longas reflexões sobre o significado das últimas palavras de Cristo, pronunciadas quando estava pregado à cruz, ao lado dos dois ladrões. A força das palavras finais de Jesus é tão forte que continuam lembradas e interpretadas, como fez o pastor peruano há mais de 360 anos.
Essa força da palavra é também imensa em momentos simples, mas cheios de significação, na pureza do início da vida. Imagine a sensação de alegria de uma criança quando pronuncia pela primeira vez a palavra “mamãe”, identificando com sorriso a face de sua mãe; ou quando, após juntar os dois lábios, fechando a boca, os afasta, pronunciando pausadamente as duas sílabas da palavra “bola”, olhando feliz para seu brinquedo favorito. Descobertas mágicas.
A palavra é o principal meio que a humanidade tem para pensar, elaborar e, finalmente, se comunicar. Alguém já disse que as palavras podem promover a paz ou fazer a guerra; que podem ser mais poderosas do que canhões; atualmente, amplificadas pela potência da internet, chegam aos rincões mais longínquos em poucos segundos.
Na vida pública, os governantes devem ter consciência do poder de suas palavras. Os verdadeiros estadistas são muito contidos em seus pronunciamentos públicos. Somente dizem o essencial, sabendo das consequências de suas falas.
Aqui em Minas, ainda se diz que político mineiro fala pouco; ele se comunica mais com gestos ou com o silêncio – que, em certas circunstâncias, diz mais do que mil palavras. Hélio Garcia sempre alertava seus auxiliares: “Cuidado com a palavra, uma vez dita, nunca mais volta para a boca”.
Nestes novos tempos de mídias sociais, os políticos parecem não ter muito cuidado com suas palavras. Falam pelos cotovelos. Vejam o presidente Lula. Como fala, e sem pensar nas consequências do que diz. Não percebe que sua palavra não está saindo da boca de qualquer um, mas de um chefe de Estado, cujos custos podem ser incalculáveis, principalmente quando se trata de questões envolvendo relações internacionais. Ou, ao contrário, ele tem sua autoestima maior do que seu tamanho político. Presidente da República não é animador de passeata, tampouco influenciador digital.
Hoje é dia para você, presidente Lula, refletir sobre as últimas palavras de Jesus e sobre o significado de sua própria liderança. Não titubeie na quinta palavra de Jesus (“Tenho sede”[JOÃO 19,28]), pois poderá revelar segundas intenções. Tome muito cuidado com as palavras mal ditas.