Há 20 anos, o Brasil conquistou seu último título, lá no distante Oriente. Agora, foi a vez de nossa vizinha Argentina, no Oriente Médio.
A Copa de 2002 começou como jamais imaginada, quer pelo seu desfecho, quer por mim, em particular. A campeã mundial, França, que, em 1998, havia derrotado o então campeão, Brasil, perdeu na abertura para Senegal.
No meu caso, em evento patrocinado pela Mastercard, assisti àquele jogo em Sevilha, na companhia de Pelé e Di Stefano. Não acreditávamos no que estávamos vendo e, menos ainda, que a campeã França viria a ser eliminada logo na fase de grupos. E depois?
Ah, enquanto eu aguardava o início do jogo Brasil x Inglaterra, uma improvável ligação telefônica do Brasil, que nunca pensei em receber, na madrugada do dia 21 de junho, me dizia que Roberto Drummond havia partido, sem sequer deixar um adeus. Faltavam poucas horas para a decisão das quartas de final entre Brasil e Inglaterra. Poxa, Roberto, bem que você poderia ter esperado o final da Copa. Foi muito difícil acompanhar aquela partida, porque a outra não saía de meu pensamento. Só o tempo me fez compreender o gol improvável do Ronaldinho Gaúcho.
O mágico Ronaldinho, que, à época, acolhia no Barcelona o seu sucessor, o garoto argentino Lionel Messi, evitou a maldição das quartas de final, colocando o Brasil no rumo do penta. O resto, todos conhecem.
Depois, Ronaldinho trouxe sua alegria e sua competência para dar ao Atlético a Libertadores, em 2013, e Messi, que na Copa de 2014 respirou o ar da Cidade do Galo, quando a Argentina lá se hospedou, ao atingir o ápice de sua carreira, assistiu às torcidas de todo o mundo prestarem homenagens ao eterno ídolo, Pelé, cujo pai vestiu o manto alvinegro. Saúde, Rei.
O tri da Argentina, neste ano, tem um sabor muito especial para nós, latino-americanos, que estamos sofrendo tanto e perdendo nossas esperanças. Ele nos faz entender que nossas semelhanças são maiores do que nossas diferenças; que nossos sonhos são mais iguais do que nossas divergências e que podem renascer. Basta querermos.
Saúdo os argentinos que, em uma esquina de um bairro qualquer de Buenos Aires, reverenciam uma incógnita avó, cantando “La la la la la, abuela”. Essa avó poderia ser Hilda Furacão, que acompanhou seu amor, Paulinho Valentin, formado no Galo, ou, quem sabe, Mercedes Sosa, de tantas memórias, cantando o hino imortal de Violeta Parra: “Gracias a la vida que nos ha dado tanto” e que “el canto de mis hermanos es mi próprio canto”.
Messi recuperou a autoestima dos argentinos e, quem sabe, de todos nós, latino-americanos, e o tri será um sopro para reconhecermos que compensam as lutas que travamos pela liberdade e pela vida. Graças à vida que nos deu Pelé e Messi e o canto de Violeta Parra. Saúde, Pelé e Messi.