O Brasil é o maior produtor mundial de café, e Minas Gerais produz mais de 50% do café brasileiro. O Sul de Minas responde por pouco mais da metade da produção estadual, seguido pela Zona da Mata, com 25%, e pelas áreas do Cerrado, com 20%. Igualmente relevante é a estratégia de diferenciação do produto que vem sendo adotada pelos empresários do Estado, por meio de inovações tecnológicas e do uso de fatores especializados.

Quando um produto é produzido predominantemente a partir de fatores tradicionais (clima, terras férteis, localização geográfica, abundância de mão de obra não qualificada etc.), torna-se passível de elevado nível de replicabilidade em outras regiões por inúmeros empreendedores. É o que levou o Vietnã, um país sem tradição no consumo e na produção de café, à segunda posição no mercado mundial, ultrapassando a posição relativa da Colômbia.

Essa estratégia de diferenciação resultou em novos produtos (café gourmet, café orgânico, café do Cerrado etc.), no aumento da produtividade dos fatores de produção e num prêmio de classe mundial nos seus preços finais. Como esse desempenho é fruto de inovações tecnológicas schumpeterianas e de estratégias de competitividade sistêmica, as perspectivas de longo prazo são extremamente favoráveis a esse setor dinâmico da economia de Minas.

Mas, no meio do caminho, há um fator de risco para os empreendimentos locais. O desempenho do setor cafeeiro depende também de condições climáticas, as quais, em última instância, estão relacionadas estruturalmente com “os rios voadores”, originários da floresta Amazônica.
Os especialistas definem o fenômeno dos rios voadores “como cursos de água atmosféricos formados por massas de ar carregadas de vapor de água, muitas vezes acompanhados por nuvens e propelidos pelos ventos.

Essas correntes de ar invisíveis passam em cima das nossas cabeças carregando umidade da bacia Amazônica para o Centro-Oeste, Sul e Sul do Brasil”. É como se a floresta Amazônica funcionasse como uma bomba d’água que puxa para dentro do continente a umidade evaporada pelo oceano Atlântico, a qual acaba influenciando o regime de chuva e o clima de muitas regiões brasileiras.

Estudo da FEA/USP sobre os impactos econômicos das mudanças climáticas no Brasil prevê, num de seus cenários, que o aquecimento na Amazônia será muito profundo, prenunciando uma alteração radical da floresta: 40% da atual cobertura florestal seriam substituídos pelo bioma Savana. Nesse cenário de savanização da Amazônia, a produção de café poderá ter uma quebra de 20%, sendo que Minas e São Paulo deverão perder condições de produção do café, atingidas por deficiência hídrica ou por excesso térmico nas regiões tradicionais, sendo que a expansão produtiva tende a se realizar no Sul do país.

Portanto, as lideranças políticas e empresariais do agronegócio não podem assistir passivas e indiferentes ao atual desmonte institucional das políticas ambientais, as quais vinham sendo implementadas e aperfeiçoadas desde os anos 1980, sabendo que tal processo terá como beneficiários finais a biopirataria, o extrativismo predatório e os governantes populistas, culminando na dilapidação dos recursos ambientais da Amazônia e de seus rios voadores.