A ONU estabeleceu, após a Segunda Grande Guerra, um sistema de contas da sociedade visando a identificar, para cada país ou região, os níveis de produção, de consumo e de investimentos de bens e serviços, dos quais se derivam indicadores sobre a prosperidade e o crescimento econômico. Nos anos 70, coordenou também a elaboração dos indicadores de desenvolvimento humano (IDH), de pobreza e de miséria social, permitindo analisar o grau de concentração de renda e de riqueza em cada país.
No século XXI, promoveu uma grande mudança no seu sistema de contas econômicas e sociais para integrar as contas satélites relativas ao meio ambiente. Esse sistema, que vem sendo implantado em muitos países (ainda não no Brasil), permitirá calcular o valor econômico do estoque de capital nacional e o valor dos serviços ambientais que produzem para uma sociedade. Esses serviços de uso e de não uso dos recursos ambientais são classificados pela ONU em quatro categorias. Tomando como exemplo as florestas tropicais, tais serviços são: serviços de provisão (alimentos, matérias-primas, bioenergia, água pura etc.); serviços regulatórios (clima local, sequestro de carbono, filtragem das águas, fertilidade etc.); serviços de habitat (espécies de flora e fauna etc.); e serviços culturais (recreação, turismo etc.). Os serviços exemplificados podem ser amplamente estendidos e de forma diferenciada, sendo indispensáveis em qualquer processo de desenvolvimento sustentável.
Já há metodologias consolidadas para calcular o valor econômico total de cada ativo ou serviço ambiental. Assim, quando há um desmatamento ou uma queimada na Amazônia, por exemplo, indivíduos e empresas podem fazer negócios altamente lucrativos, mas há destruição do valor econômico para as atuais e futuras gerações. Jared Diamond, geógrafo da Universidade da Califórnia, ilustra como o uso não sustentável da base de recursos naturais pode levar uma sociedade a um processo de empobrecimento, narrando a história do Haiti e da República Dominicana. Uma única ilha (São Domingos ou La Española), dois povos, duas histórias e duas trajetórias divergentes de desenvolvimento.
Originalmente, ambos os países tinham como característica dominante a exuberância de suas florestas. Ao longo do tempo, a questão da sustentabilidade ambiental foi tratada de forma diferente no modelo de crescimento prevalecente em cada país: o Haiti tem atualmente apenas 1% do seu território florestado, e a República Dominicana tem 28%, sendo que o Haiti tem o menor IDH do mundo; e a República Dominicana, o IDH semelhante ao do Brasil.
Se estimarmos as contas do Brasil em termos integrados, iremos constatar o quanto o país vem perdendo o seu potencial produtivo, com cerca de 90% de áreas desmatadas na Mata Atlântica, 20% no Anel Externo da Amazônia, e com 16% do Território Nacional desertificado no Nordeste e na Mesorregião da Campanha Gaúcha etc. Se não houver uma Grande Transformação, o valor de legado que deixaremos para os nossos netos será um país ecologicamente degradado, socialmente desigual e economicamente deprimido.