O geógrafo Jared Diamond, da Universidade da Califórnia (UCLA), ao analisar historicamente como as sociedades antigas e as sociedades modernas escolheram entre o seu colapso e o seu progresso econômico e social duradouro, destaca que a diferença depende, entre outros fatores, de líderes que não reagem apenas de forma passiva, mas que têm a coragem de antecipar crises e agir, abortando-as antecipadamente. São capazes de prospectar o futuro das sociedades em que vivem e, inconformados, liderar processos de grandes e inovadoras transformações.
São diversas as razões pelas quais muitas economias regionais e urbanas necessitam diversificar as suas estruturas produtivas. Estão à espera, contudo, de lideranças de vanguarda que façam acontecer transformações estruturais ante um horizonte de crise. Isso ocorre com relativa frequência quando o organismo econômico da região ou do município apresenta sinais de fragilidade, de instabilidade ou de disfuncionalidade.
Municípios e regiões cuja base econômica é constituída apenas por uma única atividade dominante (uma mina, um produto agrícola, uma siderurgia etc.) tendem, com frequência, a se tornar extremamente fragilizados em termos da sustentabilidade das condições de vida dos seus habitantes. No longo prazo, têm grande probabilidade de entrar em um processo de decadência socioeconômica e socioambiental, levando de arrasto empregos, rendas, bases tributáveis.
Esse fenômeno é mais generalizado do que se pensa. Pode ocorrer não apenas em economias monoindustriais, mas também em cidades que se configuram como lugares centrais de prestação de serviços públicos ou privados mais especializados, como é o caso até mesmo de Brasília.
Planejada para acomodar cerca de 500 mil habitantes em uma cidade tipicamente administrativa, a população de Brasília caminha para quase 3 milhões de habitantes, vivenciando um lento processo de decadência social e econômica a partir da crise fiscal do governo federal (de 2008 a 2016, houve uma queda de 26% no índice de emprego e renda). Assim, o Distrito Federal precisa buscar alternativas de desenvolvimento para absorver as levas crescentes de jovens que estão chegando aos seus mercados de trabalho.
Economias regionais e municipais podem passar por experiências históricas de auge e de declínio, de ciclos de prosperidade a ciclos de estagnação, de anos dourados a anos de decadência. Mas não se trata de um determinismo que se impõe à evolução histórica dos municípios e regiões. Nada que uma política pública bem concebida e bem implementada não possa resolver.
Precisamos acreditar politicamente que grandes transformações endógenas podem acontecer, e acontecem. Orhan Paruk, Prêmio Nobel de Literatura de 2006, escreveu sobre a Turquia: algumas pessoas pensam que “num país brutal como o nosso, onde a vida humana pouco vale, é tolice se deixar destruir por causa das próprias crenças e de grandes ideais, e que só quem vive nos países ricos pode se dar a esses luxos... mas é exatamente ao contrário: num país pobre, o único consolo que o povo pode ter é o de suas crenças”.