JOSIAS PEREIRA

De quase eliminado à semi da Champions: Tottenham segue ao infinito e além

De volta ao palco mágico da Europa, os Spurs podem não ter o mesmo peso histórico do Ajax, mas possuem um conjunto testado e preparado para estar onde merecem estar


Publicado em 30 de abril de 2019 | 08:39
 
 
 
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"Chegamos à semifinal porque jogamos como um time. Tivemos nossos problemas durante toda a temporada, sempre convivemos com jogadores machucados, mas contornamos isso. Podemos atingir o que queremos. Tudo é possível", disse Mauricio Pochettino, técnico do Tottenham, na véspera do duelo de hoje contra o Ajax, o primeiro da semifinal da Champions League. 

Para analisar essa história de superação, permita-me voltar um pouco no tempo. 28 de novembro do ano passado. Wembley vivia uma atmosfera tensa. Afinal de contas, o time da casa, o Tottenham, entrava em campo prensado junto à parede. Uma série de resultados ruins - apenas uma vitória e um empate em quatro jogos - apontavam para um cenário de possível eliminação, ainda mais tendo em mente a derrota de virada para os nerazzurri no jogo da ida, em San Siro. A tensão no estádio arrastou-se por 80 minutos, tempo em que a Inter assegurava seu retorno às oitavas de uma Champions League. 

Mas o Tottenham precisava resistir. Sissoko partiu na direita, invadiu a grande área, tocou fino para Delle Ali, que fez o giro e rolou para a batida de Eriksen, na saída do goleiro Handanovic. Os Spurs estavam vivos na Champions League. Empatados em pontos com a Inter de Milão, os ingleses chegaram à última rodada dependendo apenas de si para ir ao mata-mata, mas o duelo era com o Barcelona, no Camp Nou. Outro jogo infartante. Foi de Lucas Moura o gol que colocou o placar em igualdade contra os catalães. O 1 a 1 seria o necessário. Mas não sem antes viver um drama. Do lado de lá da chave, sete minutos de acréscimo e mesmo com a força do San Siro, a Inter ficou pelo caminho com um decepcionante 1 a 1 com os PSV Eindhoven.

Prezo muito por conceitos de jogo e a manutenção de uma filosofia de trabalho. Mauricio Pochettino conseguiu implantar isso no norte de Londres. Há cinco anos, quando o técnico argentino chegou a White Hart Lane o cenário parecia pouco animador. Ele seria o terceiro treinador em um espaço aproximado de um ano. André Villas-Boas foi demitido durante a temporada, enquanto o interino Tim Sherwood não teve seu contrato renovado. Mas Pochettino tinha suas credenciais. Um comandante que conseguiu levar o Southampton da antepenúltima posição ao oitavo lugar do Campeonato Inglês. 

E foi assim, mantendo seu exaustivo pensamento sobre o jogo, um verdadeiro vício, que ele foi provando ser possível levar o Tottenham a conquistas muito maiores e, definitivamente, deixar o rival Arsenal no chinelo ano após ano. Em sua primeira temporada pelos Spurs (2015-16), um terceiro lugar da Premier League, com um aproveitamento de 61%, melhor comparado com o ano anterior (56%). O time só ficou atrás do campeão Leicester e do rival Arsenal. Pochettino conseguiu levar a equipe a UEFA Champions League pela primeira vez desde 2010/11.

Desde então, os Spurs sempre marcaram presença no principal torneio do continente e também figurando entre os melhores da Premier League. Em 2016-17, o time foi vice-campeão. Na temporada seguinte, terceiro lugar. E na atual, briga de novo pelo terceiro posto. Mas nada se compara ao feito que hoje se consuma. Pela primeira vez, o Tottenham está em uma semifinal de Liga dos Campeões da Europa, a segunda participação se levarmos em conta a presença no principal torneio de clubes do continente em 1962, a então Taça dos Clubes Campeões da Europa, quando os Spurs, campeões ingleses, pararam na força do Benfica de Eusébio. E olha que naquela ocasião, após a derrota no primeiro jogo, em Lisboa, por 3 a 1, o time conseguiu vencer na volta por 2 a 1. Um período histórico. 

De volta ao palco mágico da Europa, os Spurs podem não ter o mesmo peso histórico do Ajax, mas possuem um conjunto testado e preparado para lidar com perdas como as de Harry Kane e também do sul-coreano Son. Ter superado o City nas quartas de final, da maneira que foi, engrossa a lista de feitos da equipe londrina que no embalo de seu treinador idealiza o infinito e além.

"Estou vivendo um sonho. Quando cheguei aqui há cinco anos, estar em uma semifinal (de Liga dos Campeões) com o Tottenham era um sonho. Quando você sonha, você deve sonhar com a lua. Você tem que ir ao infinito e além", o lema de Buzz Lightyear parece ainda mais real na voz de Pochettino, o argentino de Murphy, uma comuna na província de Santa Fé, cobiçado pelos maiores da Europa e que desafiou os orçamentos bilionários de seus rivais ingleses para montar um elenco de atletas jovens e cada vez mais experimentados nos maiores torneios do mundo. Só nas semifinais da Copa da Rússia, o Tottenham venceu a "batalha" dos grandes times mundiais, colocando nove atletas no estágio máximo do futebol. Eles estão preparados. O Tottenham está exatamente no lugar onde merece estar. 

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