JOSIAS PEREIRA

Há apelo sim! O futebol feminino dá certo

Existe uma dívida com uma geração que viu sonhos dilacerados pelo descaso em várias esferas do futebol nacional e também da sociedade


Publicado em 18 de março de 2019 | 03:00
 
 
 
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Neste tempo de jornalismo esportivo, diversos foram os comentários preconceituosos em relação ao futebol feminino e sua capacidade de crescimento. Falas carregadas de machismo e desconhecimento que vão na contramão de uma expansão anual perceptível, mas que encontra resistência porque o brasileiro conserva sua velha dinâmica de torcedor – só valorizar quem ganha. A ausência de uma conquista das meninas aprofunda essa discrepância e atrasa o desenvolvimento da modalidade no país.

Pelo desempenho da seleção que se prepara para a Copa do Mundo da França, em junho deste ano, essa tendência tende a se perpetuar. Vadão não tem mais o controle e suas decisões são desconectadas do resto do mundo. O futebol feminino é esporte de alto rendimento e planejamento é fundamental para ter resultado.

De bom grado ou não, os clubes brasileiros, obrigados pelos regulamentos da CBF e da Conmebol, estão incluídos neste processo de maturação. O futebol feminino no Brasil tem seus primeiros registros na década de 1980 e só agora, em 2019, temos as grandes agremiações do país aderindo. Existe uma dívida histórica com uma geração que viu sonhos, por exemplo, de ser uma Marta, dilacerados pelo descaso em várias esferas do futebol nacional e também da sociedade, que preteriu potenciais que poderiam colocar o país no patamar de projetos vencedores como EUA, Japão, Alemanha, Suécia, Inglaterra e França.

O importante é que o processo de desenvolvimento seja conduzido sem intervalos e rompimentos de trabalhos, uma constante no esporte brasileiro fora dos milhões do futebol profissional masculino. Me alegra, ao menos, ver a empolgação que as meninas estão trazendo aos torcedores. Há espaço. Há apelo.

Algumas demonstrações pelo Brasil e pelo mundo mostram isso. Poderemos acompanhar o Brasileiro feminino da Série A1 via Twitter neste ano. O Boca Juniors permitiu recentemente que suas garotas jogassem pela primeira vez em La Bombonera. No embalo, a Federação Argentina profissionalizou a modalidade. No último fim de semana, em Madri, o Wanda Metropolitano foi o palco do recorde mundial de público para uma partida entre mulheres: 60.739 viram a vitória do Barcelona sobre o Atlético de Madrid por 2 a 0. E o clube colchonero incluiu Amanda Sampedro (102 jogos), Silvia Meseguer (101) e Ángela Sosa em seu corredor de lendas, espaço destinado até então apenas aos atletas masculinos que superaram 100 jogos. Na Copa do Mundo teremos uniformes exclusivos para as seleções. Medidas que apontam para um crescimento sem volta e que precisa ser sustentado por pessoas sérias e comprometidas na luta pela inclusão. Mais visão, CBF. Vamos investir nas nossas meninas não só em Copas e Olimpíadas, mas em todos os âmbitos do jogo. 

 

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