Sempre fui muito crítico ao formato das eliminatórias africanas. E isso sempre prejudicou algumas boas seleções de poderem figurar no estágio máximo do futebol internacional – caso evidente do Egito. Maiores campeões da Copa das Nações Africanas, com sete conquistas, os egípcios retornam a um Mundial após 28 anos. Antes dessa presença na Copa de 1990, na Itália, o Egito só havia ido a um Mundial, o de 1934, também em solo italiano. Não foi por falta de bons valores. Em 2009, por exemplo, com Mohamed Zidan, ex-Borussia Dortmund, como destaque, os egípcios chegaram a disputar a Copa das Confederações na África do Sul e derrotaram a Itália, atual campeã mundial à época, por 1 a 0, e deram uma canseira no Brasil, que só venceu com um pênalti salvador no final por 4 a 3.
Mas o país dos faraós passou por um processo de reformulação consolidado hoje em nomes que já são figurinhas carimbadas para os fãs do futebol internacional, como o volante Mohamed Elneny, do Arsenal, e ele, simplesmente um dos melhores jogadores da Europa na temporada, Mohamed Salah, do Liverpool. Daquele time convocado para a Copa das Confederações de 2009, 20 jogadores atuavam no futebol do mundo árabe. Hoje, a dispersão dos atletas egípcios pelo planeta atinge 12 atletas em 28 nomes chamados para os amistosos de março contra Portugal e Grécia.
O Egito, que viveu um intenso clima de insurreição popular em 2011, que culminou com a queda do ditador Mohammed Hosni Mubarak, que se encontrava há 30 anos no poder, vive agora sua ‘primavera árabe’ no futebol. E as possibilidades são reais desta seleção, comandada pelo técnico Héctor Cuper, argentino de Santa Fé, avançar a uma possível oitavas de final de Copa em um grupo que conta com Rússia, Arábia Saudita e Uruguai.
Esta esperança se concentra em Salah. O egípcio, responsável pelo gol da classificação do país à Copa do Mundo, chegou nesse último fim de semana a 29 tentos marcados na Premier League, estabelecendo assim também a melhor marca de sua carreira. Com mais um gol, ele pode deixar Didier Drogba no chinelo e se tornar o jogador africano com mais gols em uma edição de Campeonato Inglês. No total, Salah já fez 37 gols pelos Reds em todas as competições do ano, o maior número feito por um jogador do Liverpool na era Premier League, superando Robbie Fowler, com 36 tentos, em 1995-1996. Tudo está dando absolutamente certo para o camisa 29 dos Reds, até mesmo no campo político.
Herói nacional. Foi revelado pelo jornal “The Economist” que Salah recebeu mais de 700 mil votos nas recentes eleições egípcias. O nome do atacante apareceu nos votos nulos do pleito, que contabilizaram mais de um milhão. A eleição foi vencida por Abdel Fattah Al-Sisi, atual presidente, com 92% dos votos. O dado curioso é que Salah, com 5%, teve mais votos do que o candidato derrotado, Moussa Mustafa Moussa, que contou com apenas 3%. Se houver justiça no futebol, o nome de Salah, por merecimento, deve figurar ao menos no Top 3 dos melhores jogadores no prêmio da Fifa. Ficaremos de olho nele na Copa da Rússia.