–Wesley?

– Rafaela?

Entrei no carro, começamos a conversar, era um homem na minha faixa etária, meia idade. Perguntei há quanto tempo ele trabalhava como motorista de aplicativo.

– Vai para uns 8 anos!

– E no que você trabalhava antes? Ele me contou que já era motorista, mas de ônibus. Raro, pensei, sempre vejo pessoas que eram de outras áreas. Fiquei interessada. 

Perguntei se ele tinha sido demitido ou algo assim. Ele contou que não, que tinha se cansado, que era bem melhor ser motorista de aplicativo porque ele tinha mais liberdade, fazia os próprios horários, era seu próprio chefe, ganhava mais e sem o mesmo estresse.

Interessante, pensei. Perguntei quantas horas por dia ele trabalhava. Ele contou que não gostava de passar de 12h, porque era cansativo, mas em alguns dias ele chegava a ficar 14h na rua e já tinha acontecido de ficar por 16h. Depois, perguntei a ele quando folgava. Ele disse que gostava de folgar aos domingos, mas que tudo dependia de sua necessidade financeira. Havia semanas em que não descansava.

– Pesado! – comentei. Então, perguntei sobre o período de pandemia. Ele contou o quanto tinha sido difícil. Contou que trabalhou com medo porque tinha problema respiratório, mas não podia ficar parado. Depois, contou que a pior situação que viveu ocorreu quando bateram no carro dele. Ele quebrou a perna e ficou quatro meses sem dirigir. O médico tinha pedido seis, mas ele não tinha reserva e voltou com dor.

A certa altura perguntei se não teria sido melhor ter continuado no CLT, ele não titubeou:

– Claro que não, aqui, faço minhas regras!

Cheguei ao meu destino e fiquei pensando em como fomos convencidos de que o CLT era ruim e que liberdade maior era trabalharmos por conta própria. Lembrei-me dos jovens que estão agora xingando os colegas chamando-os de CLT. 

História da CLT no Brasil

A consolidação das Leis do Trabalho surgiu com o Decreto-lei 5.452 publicado em 1º de maio de 1943, antes disso, havia regras, mas favoreciam só os empregadores, as pessoas trabalhavam uma média de 12h a 16h por dia, tal como o nosso motorista de aplicativo. Não havia segurança para acidentes de trabalho, assim como não há para o motorista de aplicativo. Não havia férias ou 13º também, assim como no caso do nosso motorista de aplicativo.

Aliás, quando a CLT surgiu, crianças também eram submetidas a jornadas de até 18 horas por dia, não estudavam e recebiam menos da metade do valor de homens adultos. Mas, não foi um governo bonzinho que libertou o povo de um regime quase escravo, foram greves, lutas sociais.

Não consigo entender como agora nos convenceram de que ter direitos é algo ruim. Como empresária, se eu pensasse só em lucro, estaria soltando foguete – menos direitos, mais dinheiro para o bolso do empresário. A pejotização me parece a melhor invenção do século para quem não pensa no outro se ele adoecer. Mas não consigo pensar assim, sigo acreditando que, por pior que seja, ter direitos é bem melhor que não os ter.