Viver de e para a arte. Em 2013 eu ministrava treinamentos de comunicação, adorava o trabalho, mas eu me realizava mesmo quando, uma vez por semana, eu entrava ao vivo na rádio; amava ainda mais quando meus artigos saíam no jornal. A questão é que eu possuía um bom salário, o que fazia diferença para uma mãe com três filhos dependentes e, não vou negar, eu já possuía um nome forte no mercado. Então, deixar a segurança para empreender na área artística, especialmente por meio da voz e da escrita, era um grande risco.

Quando minha filha adotiva me disse que eu nunca seria mãe dela, eu descobri que nenhum dinheiro do mundo compraria amor. Sempre falo sobre como a rejeição é um sentimento terrível, inclusive quando desejamos falar em público, se não for bem trabalhada, ela nos paralisa, e eu não queria isso. Rejeitada, sofri, mas decidi seguir a vida. Porém, busquei o autoconhecimento para fazer escolhas pessoais que me permitissem fazer o que meu âmago desejava, ainda que eu recebesse menos. Queria pela voz e pela escrita acessar um número gigante de pessoas. 
Sei que, de certa forma, o professor faz isso, por ser uma ponte.

Ele ensina o outro e se realiza quando o outro atravessa essa ponte e conquista o mundo, é a profissão mais benevolente que existe e eu a amo, mas a rejeição fez crescer em mim o desejo de atravessar a ponte também, eu queria fazer algo grande, mas coletivo. Foi assim que me tornei empresária, não por necessidade ou por oportunidade, mas pelo ideal de escutar uma alma que queria realizar mais. 

A comunicação nos permite acessar visões de mundo diferentes e ampliar nosso próprio horizonte; queria dar acesso a muitos, então, escolhi trabalhar com o setor audiovisual. Optei por realizar trabalhos de acessibilidade, o que envolve a dublagem de filmes desde a tradução até o cuidado final com cada voz, além da realização de Libras, Audiodescrição e Legenda Descritiva. Trabalhos que permitem que o outro possa ter acesso à arte e a tudo o que ela comunica. Não é fácil, mas é incrível realizar um trabalho tão coletivo e em prol de tanta gente. 

Hoje, 3 de setembro de 2025, vou receber, junto a alguns outros agraciados, a Comenda das Artes na Câmara Municipal de BH. Uma homenagem do Sated-MG àqueles que, de alguma forma, contribuíram para o enriquecimento e a valorização da cultura.

Não posso negar que, como atriz, que também sou, é uma honra maravilhosa me tornar uma comendadora, mas pensar que um sindicato lembrou de uma comunicadora que se tornou empresária demonstra o quão possível é construir uma empresa cuja visão não seja de exploração, mas sim um local que gere crescimento e respeito, com responsabilidade e visando ao bem comum.

Recebi, ainda, o presente de poder publicar esse artigo no mesmo dia da homenagem, podendo escrever (algo que tanto me realiza) sobre o quão difícil pode ser fazer escolhas, mas, ao mesmo tempo, sobre o quão maravilhoso é poder atravessar a ponte por um ideal que nos permita nos reconstruir quando tudo desmorona.