“Este prédio é meu!”. Essa era a fala de um síndico em um dos prédios em que eu vivi. Idoso, sem grandes conquistas, ele se sentia importante por ser síndico. Era o seu pequeno poder.
O homem sempre teve uma relação forte com o poder. Montesquieu, quando dividiu os Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) na obra “O Espírito das Leis”, o fez porque considerava que, ao concentrar todo o poder nas mãos de uma única pessoa, a liberdade dos cidadãos estaria em constante risco de tirania. Para ele, “todo homem que tem poder é levado a abusar dele”. A questão é que aqui não estamos falando de um grande poder, mas do pequeno poder.
É o síndico que acha que o prédio é dele, o dono de um pequeno empreendimento que acredita que pode humilhar funcionários, o homem branco que se coloca como cristão, empresário e pai de família e dá um tiro à queima-roupa em um gari porque o caminhão de lixo estava “atrapalhando” a passagem do carro dele. Afinal, ele é superior, ele tem poder e comunica isso o tempo todo.
Mas o que leva o homem a essa necessidade de poder?
Nietzsche explica que o poder não é apenas uma dominação externa, mas uma força fundamental da existência, uma pulsão básica de crescimento, superação e autoafirmação. Esse conceito ele nomeia como “vontade de potência”. Para ele, essa é a força motriz por trás de todas as ações humanas, sejam elas criativas, destrutivas ou de autotransformação. Mas qual o motivo dessa pulsão?
Não sei exatamente o que leva o ser humano a desejar tanto o poder. Sempre me pego refletindo sobre isso. Seria para controlar o ambiente ao seu redor? Ter influência? Status social? Reconhecimento? Estaria ligado à nossa natureza primitiva para termos mais acesso a recursos e, assim, mais tempo de sobrevivência para nós e para nossa prole? Seria uma forma de segurança e controle? Talvez seja tudo isso junto, não posso afirmar.
Só sei que, como analista do discurso, percebo que o poder é comunicado claramente de diversas formas. Uma postura física normalmente erguida e aberta, contato visual direto com expressões faciais consistentes, tom de voz firme, gestos assertivos, linguagem verbal ativa e precisa com afirmações confiantes. Tudo isso é muito bom, e eu ensino nos meus cursos.
O problema ocorre quando o poder vem por meio de humilhação verbal e violência física. Quando estou em um ambiente e percebo que a comunicação dada a mim é diferente da que meu interlocutor dá aos demais, que ele considera “inferiores” a ele, sei que a pessoa quer o poder, sim – poder que talvez seja mesmo pulsante no ser humano. A questão é que ela também não tem caráter, e falta de caráter é algo que não podemos moldar.
Talvez a questão não seja simplesmente o poder, mas o que o homem faz quando adquire alguma forma de poder sobre os outros, seja ela grande ou pequena. Talvez o problema realmente não seja o poder, mas a subjugação de uns sobre os outros – talvez esta demonstre realmente quem cada um é.