A crise causada pelas sanções tarifárias impostas pelo governo de Donald Trump contra nosso país deixou bem evidente quem são os verdadeiros patriotas e defensores dos interesses nacionais. Nos últimos anos, a extrema direita liderada por Jair Bolsonaro se arvorou do discurso do patriotismo e chegou a usar como slogan de campanha “Brasil acima de todos”. Sequestraram a bandeira nacional e suas cores.

Em tempos de pós-verdade, muita gente embarcou na falsidade, inclusive grande parte do empresariado, notadamente do setor agropecuário. Ironicamente, são justamente as primeiras vítimas da realidade que se impõe.

Agora a máscara caiu. A partir de uma campanha orquestrada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em solo estadunidense, a extrema direita daquele país impôs as medidas anunciadas pelo governo, como a taxação em 50% dos produtos brasileiros importados. A carta publicada por Trump comunicando as sanções e seus motivos é um dos maiores ataques que já sofremos contra nossa soberania. Os absurdos não podem ser normalizados. Há pouco tempo, documentos que revelaram tentativa de interferência na nossa política pelo governo estadunidense durante a ditadura militar foram tratados como escândalo. Como descrever agora as ações de um presidente que oficialmente faz algo bem pior?

O respeitado ganhador do Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman afirmou com precisão que as sanções de Trump são um ataque contra a democracia brasileira e configuram uma grave violação das leis nacionais e internacionais. O economista vai além e diz que as iniciativas são passíveis de causar o impeachment do presidente. Lembra que não só o povo brasileiro sai prejudicado, mas também seus compatriotas, que vão pagar mais caro para consumir produtos brasileiros.

A intromissão em assuntos internos brasileiros foi além com o cancelamento dos vistos americanos de ministros do Supremo Tribunal Federal e do procurador-geral da República. Isso configura-se uma gravíssima escalada de retaliações oficiais com motivações político-pessoais. Mais uma vez, são ataques que buscam constranger instituições do Estado brasileiro e interferir diretamente no curso regular da Justiça, em benefício de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente réu por tramar a ruptura da ordem constitucional.

O governo dos Estados Unidos atentou contra nossa soberania também ao abrir investigação comercial sobre a relação dos dois países. Eles não aceitam nem nossa independência tecnológica que nos livrou do monopólio de empresas estadunidenses que controlam as transações financeiras. O nosso Pix, que é uma unanimidade nacional, concorre diretamente com as grandes bandeiras de cartão de crédito daquele país. Além de desejarem recuperar o mercado brasileiro, elas temem uma eventual integração global de sistemas similares ao modelo brasileiro – afinal, ele faz tudo que essas empresas fazem, mas sem cobrar nada por isso.

O Brasil tem que se unir contra os traidores da pátria que vestiram o boné dos Estados Unidos. Fazer uma defesa firme dos interesses nacionais diante de qualquer forma de intimidação, chantagem ou intervenção estrangeira. Nosso dever histórico é resistir a toda tentativa de submissão do país a interesses externos, mantendo vigilância permanente sobre agressões que ameacem nossa democracia, nossas instituições e nossa autodeterminação como nação.