Nesta quinta-feira entra em vigência o tarifaço dos Estados Unidos sobre o Brasil, assunto que tomou conta da pauta nacional. Desde que o presidente Donald Trump anunciou as novas sobretaxas nas importações brasileiras, o governo Lula trabalha incessantemente para proteger nossa economia das consequências da absurda sanção política.
A relação do Brasil com os Estados Unidos sempre foi harmônica. Bom lembrar que o presidente Lula já negociou com os presidentes democratas Joe Biden e Barack Obama e com o republicano George Bush. Com eles, nunca houve nenhum problema diplomático, pelo contrário, as relações sempre foram pautadas pelo respeito e cordialidade mútua.
O problema está em Trump, que quer acabar com o multilateralismo. Não aceita a nova ordem global, em que o seu país não é mais hegemônico. Ao atacar o Brasil, ele quer impedir o crescimento do Brics, grupo que hoje é liderado por nosso país. Não quer negociação, quer subserviência, quer impor seu domínio sobre outros países. Para os povos do mundo, o presidente norte-americano representa uma ameaça constante com sua tática mercantilista.
Para o presidente Lula, não resta outro caminho a não ser defender os interesses nacionais com altivez, o que tem feito. Em interessante análise, o escritor angolano José Eduardo Agualusa escreveu recentemente que “Lula não se dobrou, eis que, mal ou bem, o mundo o começa a perceber como um gigante”. Na opinião do jornalista Jack Nicas, que entrevistou Lula para o “New York Times”, “talvez não exista um líder mundial desafiando o presidente Trump com tanta veemência quanto Lula”.
A postura firme do presidente brasileiro não impediu que orientasse o seu governo a criar múltiplas linhas de negociação para mitigar os efeitos do tarifaço e defender a indústria brasileira e os empregos que ela gera. Negociar com Washington tudo que for possível, menos aceitar qualquer ingerência na política ou nas instituições brasileiras.
Escalou o seu vice, Geraldo Alckmin, para liderar as negociações, que tomou como primeira iniciativa reunir-se com os representantes empresariais dos setores atingidos pelo tarifaço. Com sua experiência e habilidade política, o também ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços foi o responsável pelo principal canal estabelecido, quando negociou diretamente com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick.
Um total de 694 produtos brasileiros importados pelos EUA ficou fora do tarifaço, como suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis. Também foram excluídos da sobretaxa polpa de madeira, celulose, metais preciosos, energia e produtos energéticos e fertilizantes. Porém, três itens de grande importância econômica continuam penalizados: café, carnes e frutas.
Os EUA compraram 16,5% do total de 46,1 milhões de sacas de café que exportamos, liderando o ranking dos maiores países importadores do produto. O impacto do tarifaço será grande no setor, e esse é um assunto que interessa muito a Minas Gerais, que é o principal estado produtor. Por isso, Alckmin organiza uma reação doméstica com um plano de contingência em forma de pacote com medidas para proteger o ramo cafeeiro, assim como a indústria nacional, o agronegócio e os empregos afetados.
Ao mesmo tempo, os esforços do governo em diversificar o mercado exportador se intensificaram. No mesmo dia do anúncio de Trump sobre aumento para 50% dos produtos brasileiros, o governo chinês habilitou 183 empresas brasileiras a exportar café para o gigante asiático. A decisão do parceiro de Brics reflete o importante rearranjo das relações multilaterais entre países do Sul Global frente à guerra comercial imposta pelos Estados Unidos. Só nos resta continuar seguindo esse caminho.