Para o teólogo Huberto Rohden, o apóstolo Pedro, também chamado de Simão ou Cefas, nasceu no século I a.C., e possivelmente no povoado de Betsaida, o qual se localizava na antiga e desértica região da Galileia. Assim, “Petrus” foi, no contexto sociorreligioso, uma figura icônica muito importante ligada ao cristianismo primitivo, bem como à tradicional e milenar cultura judaica. Não obstante a sua titulação papal concedida pela Igreja Católica, vários escritos sagrados desse apóstolo do Cristo foram, politicamente, considerados apócrifos e heréticos pela própria Igreja de Roma.

De fato, alguns manuscritos do século II atribuídos a Pedro foram considerados apócrifos pelos membros da patrística, porque os escritos desse pontífice tinham características doutrinárias ligadas às linhas cristãs docetista e gnóstica, o que contrariava, sobremaneira, os interesses políticos, eclesiásticos e econômicos do Império Romano. Conforme alguns pesquisadores do gnosticismo, os livros heréticos desse discípulo do Cristo abrangem, principalmente, o “Evangelho de Pedro”, os “Atos Apócrifos de Pedro”, o “Apocalipse de Pedro”, bem como o “Apocalipse Gnóstico de Pedro”.

Nesse sentido, o “Evangelho de Pedro”, por exemplo, foi considerado herético pelo bispo Serapião de Antioquia, o qual discordava veementemente do conteúdo gnóstico e docético desse manuscrito sagrado. Apesar das divergências teológicas, esse pergaminho cristão narra, em seu conteúdo, a condenação, morte e ressurreição do Messias, a guarda do santo sepulcro, bem como a aparição do Cristo ressurreto para a discípula Maria Madalena. Os “Atos Apócrifos de Pedro”, por sua vez, relatam uma suposta competição milagrosa realizada entre Pedro e Simão Mago. Além disso, esse escrito trata do martírio de Cefas, o qual pediu para ser crucificado de cabeça para baixo por respeito a Jesus. Já o “Apocalipse de Pedro”, que foi escrito em grego “Koiné”, fala sobre a fase escatológica do homem, ressaltando, sobretudo, as virtudes do céu e as punições do inferno para os pecadores.

No que tange ao “Apocalipse Gnóstico de Pedro”, também conhecido como o “Apocalipse Copta de Pedro”, devemos enfatizar que ele menospreza, em seu conteúdo esotérico, a crucificação carnal de Jesus, pois, para os gnósticos, a carne e o sangue para nada aproveitam, porque o que importa é o espírito que dá vida ao corpo. Percebam, contraditoriamente, que o Evangelho canônico de João ratifica os ensinamentos considerados apócrifos do papa Cefas, vejam: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida” (Jo 6:63).

Por fim, lembramos que a autenticidade dos escritos de Pedro foi confirmada pela comunidade científica internacional especializada na área da papirologia. Todavia, a Igreja Católica continua, autoritariamente, qualificando como apócrifos e heréticos os escritos sagrados do primeiro santo papa.