Na rotina de um jornalista, todo dia é dia de uma tempestade de e-mails. Seja no do trabalho ou no da minha conta pessoal, sempre que abro minhas caixas eletrônicas, eles estão lá: propagandas, releases, boletins, avisos, retornos… Todos à espera de uma atenta leitura. Confesso que muitos só ganham aquela olhada rápida, em que procuro palavras-chave interessantes. Em caso negativo, o destino é a lixeira.
Engraçado que, na vida, também acontece algo parecido (exceto pelo descarte). Sempre que estou em locais públicos, com grande volume de pessoas, localizo surdos, cegos e downs em meio aos demais. Não é proposital. É mais um instinto, ou, como meu marido costuma brincar, um “radar de acessibilidade”.
Nessa semana, fui surpreendida por um e-mail que carregava uma excelente notícia que ganhou não só minha atenção, mas também encheu meu coração de alegria. Diante daquela centena de e-mails encontrei as palavras: “surdos”, “Libras” e “transporte”.
Do mesmo modo como meu “radar” capta pessoas com deficiência nos lugares que costumo frequentar, as palavras daquele release pareciam chamar mais a atenção do que as outras que compunham o texto.
Tratava-se de uma novidade que a empresa de transportes por aplicativo 99 começou a usar justamente no dia em que comemoramos o Dia Nacional do Surdo – 26 de Setembro.
A companhia, que emprega motoristas surdos, desenvolveu sinalizações exclusivas para mostrar aos clientes que aquele condutor se comunica em língua de sinais. Os informativos estão nos encostos de cabeça dos bancos e nos retrovisores ou adesivados nas janelas.
Eu não sabia que a empresa aceitava profissionais surdos. Ainda não tive a oportunidade de ser atendida por um, mas espero um dia ser. O interessante da proposta é não só mostrar ao mundo que aqueles motoristas não ouvem, mas, sim, que eles são capazes.
Sem cair no discurso de superação – do qual, inclusive, tento sempre fugir, mas precisamos destacar o quão importantes são iniciativas como essa. Acredito que é deste modo que a cada dia vamos transformando o mundo em um local mais democrático e inclusivo.
A postura da empresa em adotar uma política, que deveria ser prática comum em todas as instituições, mostra o cumprimento da Lei Federal 8.213/1991 (já falamos dela aqui), e o quão enriquecedor é compor a equipe de colaboradores com pessoas com características distintas.
Propiciar aos profissionais surdos um atendimento em Libras é respeitoso, humano e inclusivo não só com os trabalhadores, mas também com os usuários surdos que estão cadastrados na plataforma.
Sugiro que as palavras representatividade, autonomia e inclusão sejam acrescidas no aviso “motorista deficiente auditivo”. De todo modo, parabéns, 99!
Atendimento personalizado
No mês de agosto, a 99 criou um projeto de inclusão para melhorar o atendimento aos profissionais surdos.
O projeto Casas 99, espaço de atendimento a todos os motoristas, passou a contar com intérpretes de Libras em Belo Horizonte e em São Paulo.
A ideia do projeto é que, em todas as Casas 99 no Brasil, o atendimento seja acessível. Mais de 30 motoristas já foram atendidos em Libras nas duas cidades.
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Transporte inclusivo para motoristas e passageiros
O interessante da proposta é não só mostrar ao mundo que aqueles motoristas não ouvem, mas, sim, que eles são capazes
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