O futebol europeu está vivendo dias gloriosos. Ou melhor, noites gloriosas, como vimos nas retas finais da Champions League e da Liga Europa. Foi no período noturno que as competições continentais interclubes se estabeleceram na Europa, uma marca que segue até os dias de hoje. E toda a trajetória desses torneios espetaculares está condensada no livro “Noites Europeias”, lançado no ano passado pela Editora Corner. É um precioso retrato de 150 anos dessas competições.

Com mais de 500 páginas, a obra, dos autores portugueses Miguel Lourenço Pereira e João Nuno Coelho, vai nas origens dos torneios entre clubes no Velho Mundo, disseca grandes equipes e recria cenários sociais e políticos que ajudaram a fomentar ou a acabar com escolas de futebol espalhadas por diversos países.

A história começa muito antes do que a maioria das pessoas imagina e o livro debruça sobre o que foi plantado no final do século 19, no auge da era industrial na Europa Central, onde foram germinadas as primeiras sementes dos torneios. A origem está na região do antigo império Austro-Húngaro, palco para disputas como a Der Challenge Cup, vencida pelo Vienna Cricket na temporada 1897/98.

A partir daí, torneios foram surgindo, ainda sem a dimensão continental, mas de forma regional, até o nascimento da Copa dos Campeões, em 1955. O livro detalha a criação de todas as competições, participantes, dificuldades de organização em uma Europa às voltas com duas grandes guerras, países fracionados, ditaduras e fortalecimento ou enfraquecimento do futebol em vários países.

O livro fala sobre o grande Real Madrid dos anos 50, do gigante Milan de Arrigo Sacchi, do incrível Ajax de Cruyff e do domínio inglês na principal competição europeia entre o final da década de 70 e o início dos anos 80 sem deixar de lado mazelas como o hooliganismo e os interesses econômicos em voga na era Champions League, o que relegou a segundo plano muitas camisas de peso de fora dos grandes centros do futebol europeu.

O livro resgata clássicas finais continentais e jogos inesquecíveis também da Copa da Uefa, a atual Liga Europa, e relembra a extinta Recopa e a antiga Taça das Feiras (essa sem o selo da Uefa). Tudo permeado por esquemas táticos revolucionários e grandes esquadrões.

As noites europeias também refletem momentos sociais e políticos dos países do Velho Continente. Ler o livro é entender as transformações do esporte, relembrar grandes times, reverenciar craques e estrategistas e viajar pelos templos do futebol europeu de 1897 a 2017.