Fui abatido pela mais longínqua saudade. Daí porque não sei exatamente o que desejo dizer sob o título acima, nem a você, leitor, nem a mim, nem muito menos àqueles que me são próximos. Será que, na vida, tudo não passa de um sonho? Mas não houve tempo em que o nascimento de uma criança significava uma bênção? Ou será que, inconscientemente, já estou a lhes dizer algo, de fato, intrigante?
Tenho medo de muitas coisas. Nesse mundo maluco em que vivemos (onde já se viu um papa renunciar ao seu poder?), no qual o Brasil desponta pelas injustiças e pelas mentiras, é preciso ter medo de algumas coisas. Nenhum dos meus medos, porém, é maior do que o de perder a liberdade, qualquer que seja a sua variação. Tenho medo, também, de me expor, de parecer ridiculamente sentimental.
Entre os males que acometem todos os mortais, este é um deles: temos que parecer fortes (ainda que não o sejamos), sobretudo se não pertencemos ao ex-sexo frágil... As lágrimas, que tanto bem fazem ao coração e à alma, nos envergonham. Mesmo que sejam sinceras, têm que ser contidas. Somos mestres na arte de escamotear.
A frase do título acima foi dita em sala de aula, há anos, por uma professora de psicologia no Instituto de Educação (é esse o seu nome hoje?), uma instituição que formava professoras do ensino básico. Não sei se, nesse tempo, além de alunas, existiam lá alunos. Pelo instituto passou o professor Mário Casassanta, pai de um colega meu e grande amigo de meu pai. Ele foi meu professor de direito constitucional na Faculdade de Direito da UFMG. Minha irmã Glorinha teve a honra de trabalhar com ele, além de ter sido secretária, lá mesmo, do professor, jornalista e escritor Aires da Mata Machado Filho.
O jornalista Joel Silveira, em entrevista ao colega de toga Geneton Moraes Neto, na TV Globo, às vésperas de deixar este mundo e queixando-se de que os amigos já se foram, confessou que o que o distraia na velhice era o sonho: "Sonho em todas as noites. Há quem ache isso esquisito, mas sonhar é viver. Quando, pela manhã, não me lembro do que sonhei durante a noite, fico muito preocupado".
Quando revelo que sou pai de seis filhos, o interlocutor sempre se assusta. Mas como - logo me inquire - deu conta de educá-los? Respondo-lhe que nem sempre os eduquei como seria desejável, mas sempre digo - lembrando-me da professora a que me referi e que noutro dia me surgiu durante longo e desconexo sonho - que todos foram sonhados e bem-vindos. E explico: cada filho veio com um pão debaixo do braço. E, para cada um, tenho uma história convincente.
O senador Cristovam Buarque, como Joel Silveira, também gosta de sonhar. No meu caso, posso ter herdado o hábito de sonhar do meu pai, que, até completar 94 anos, costumava dizer que a vida era um interminável sonho, e a nós outros - dizia - só competia desvendá-los.
Alguns sonhos podem parecer que não têm explicação, mas, na verdade, todos têm. Ninguém sonha à toa, muito menos o senador pelo PDT que, desde a juventude, fez da sua vida um sonho só em favor da educação. Para alguns, é um beócio. Para outros, um chato de galocha. Em um dos seus artigos em O TEMPO, o senador extrapolou ao imaginar sonhos para o futuro próximo. Sonhou com todas as crianças do mundo recebendo ensino de qualidade. Talvez esteja aqui o que queria dizer: que essas crianças, antes do ensino de qualidade, sejam também recebidas como se trouxessem um pão debaixo do braço.