Lançado no Brasil no final do ano passado pela Editora Grande Área, o livro “A Escola Europeia” esmiúça de forma primorosa a gestão de alguns clubes europeus, grandes e pequenos, e trata de maneira meticulosa questões sobre a identidade de cada um deles – e a influência dela no comportamento das instituições. Essa identidade é que define muito como o clube se comporta no mercado e até mesmo no estilo de jogo adotado.
Escrito em 2017 por Daniel Fieldsend, que é analista e técnico de futebol com formação pela Uefa, o livro mistura de forma saborosa o turismo esportivo em suas páginas, com pitadas de economia esportiva, táticas e diferenças culturais.
Para dissecar os clubes retratados, Fieldsend optou por fazer uma viagem de três meses pelo continente – por decisão do autor, os clubes ingleses não foram incluídos na pesquisa. E a viagem foi feita de trem, para que as paisagens e os detalhes fossem mais bem absorvidos em sua trajetória. Em nove países, o autor conversou com treinadores, gestores, torcedores e jornalistas para ajudar a dissecar os clubes. Fieldsend fala em “psicogeografia”, que é o estudo das influências mútuas entre pessoas e lugares – uma definição perfeita para o trabalho desenvolvido na obra.
O autor começa sua rota em Paris e explica os motivos pelos quais o PSG atual só poderia ter nascido ali e a relação do clube com a cidade. Mostra outro lado do futebol francês e do país em si, em Lyon e em Marselha, casa do Olympique, antes de se aprofundar em instituições espanholas como Athletic Bilbao, Rayo Vallecano e Barcelona, cada uma com suas identidades e lutas únicas.
Na passagem por Portugal, os métodos de formação de jogadores, a captação de atletas no mercado e as opções táticas dos três grandes (Porto, Benfica e Sporting) são apresentados de maneira única.
Uma empresa chamada Juventus e o estilo do Milan estão nesse trajeto, assim como representantes de países que foram pilares do antigo Império Áustro-Húngaro, casos do Red Bull Salzburg e do Austria Wien (Áustria) e do Honvéd (da Hungria, antiga casa do mestre Puskas).
O trem com Fieldsend chega à Alemanha mostrando as idiossincrasias do Bayern de Munique e a relação entre os clubes da Renânia e da Vestfália, como Borussia Dortmund e Schalke 04. A incrível viagem termina em um local com muitas histórias e uma identidade única, a Holanda. Lá são registrados os estilos de jogo do Ajax, que influenciou o mundo, e do Feyenoord, com sua base operária. Uma aula de futebol e cultura.