Thiago Camargo

Liderar o futuro

Oportunidades na biodiversidade, na natureza e na cultura


Publicado em 31 de julho de 2020 | 03:00
 
 
 
normal

O Brasil “nunca perde uma oportunidade de perder oportunidades”. A conhecida frase de Roberto Campos cai como uma luva no que se refere ao tratamento que o país concede à biodiversidade, ao meio ambiente e à cultura brasileira.

Temos um conjunto de fatores que pode propiciar um salto qualitativo em nossa economia. Sol, terras, biodiversidade exuberante, água, população considerável, extensão territorial, nenhum conflito étnico, língua única, identidade nacional incontestável, cultura forte, popular e enraizada. Somos, conforme tem dito o empresário Rubens Menin, um dos três únicos países do mundo que possuem a combinação ideal para o crescimento econômico e o desenvolvimento social, com mais de 200 milhões de pessoas e 8 milhões de quilômetros quadrados.

Por que quase sempre jogamos fora todo esse capital humano e natural de nossa terra e de nossa gente? A cultura hoje é tratada quase que como inimiga. O desperdício dos recursos naturais sempre foi escandaloso. Tratamos muitas vezes nossos rios, florestas e biomas como obstáculos ao desenvolvimento e não como fator estratégico de desenvolvimento.

Poderíamos ser uma liderança nascente mundial, ajudar o mundo a transitar de uma economia pautada no carbono, para uma economia verde, altamente tecnológica e uma sociedade aberta, democrática e plural, fundada nos valores da solidariedade, da ciência, do humanismo e das regras de mercado.

Entretanto, como quase sempre, perdemos a oportunidade. Agora, certamente acelerado pela pandemia, o mundo assiste à reafirmação do compromisso de países, empresas e pessoas, para uma vida mais consciente, responsável e solidária. Inicia-se, ainda que de forma incipiente e repleta de incertezas, um forte movimento de mudança nos padrões de consumo e das relações empresariais. As questões relativas aos problemas socioambientais ganham uma nova dimensão, e a pobreza e a desigualdade extrema tomam o centro do debate político atual.

No Brasil, o fenômeno também ocorre com a crescente participação de empresas, ONGs e cidadãos na tentativa de minorar os efeitos da pandemia. Ações concretas, pautadas em valores e no compromisso empresarial não só com acionistas. Compromisso com a comunidade local, ao apoiar ações de melhoria da qualidade de vida das famílias que vivem no entorno. Compromisso com o futuro, ao diminuir a emissão de carbono. Compromisso com o interesse público, ao fortalecer as regras de compliance. Compromisso com as crianças, ao focar o apoio às famílias e uma educação de qualidade para todos.

O Brasil poderia assumir o protagonismo. O meio ambiente, a biodiversidade e a nossa cultura são o passaporte para a entrada do Brasil no rol dos países desenvolvidos. Temos empresas, instituições, capital humano e social suficientes para, num território continental, com mais de 200 milhões de habitantes, transformar o país num líder da diversidade cultural e da biodiversidade. Não podemos perder mais esta oportunidade.

Um movimento forte e decisivo da sociedade civil, das empresas, das instituições, dos cidadãos e dos governos, poderia influenciar fortemente na mudança de mentalidade governamental e societal, com efeitos positivos e robustos na agenda das políticas públicas brasileiras.

Apesar dos desafios e da visão retrógrada de parte cada vez menor de setores dos governos e da sociedade, podemos criar as condições para uma mudança importante na nossa organização social e econômica, com efeitos duradouros para as próximas gerações e na inserção do país no mundo.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!