Quem está contra a ciência? Ora, ninguém. Seria irracional e absurdo não reconhecer os avanços civilizatórios permitidos pela ciência.
Científico é o que as ciências exatas produzem e oferecem; empírico é o resultado de observações, experiências e bom senso, mesmo sem amparo das ciências.
Paradoxalmente, sem uma única sílaba aprendida nas escolas, meu cachorro, nas caminhadas que fazemos juntos, sabe reconhecer e comer as ervas que ajudam a manter o intestino dele em ordem. Como ele sabe? Quem lhe ensinou? São boas perguntas, que remetem, segundo as teorias hinduístas, aos “devas”, forças e energias, invisíveis ao olho material, que modelam a natureza, que a estimulam, a corrigem, a aperfeiçoam. A ciência não demonstrou, mas as religiões reconhecem “algo” além da tridimensionalidade e da visão que sustenta a ordem do universo. Quer dizer que é preciso respeitar o empirismo, como um procedimento não apenas filosófico.
O homem nos seus primórdios, até dominar a linguagem e o intelecto, até codificar o bem e o mal, o justo e o errado, era conduzido e protegido exclusivamente pelos devas, que o modelaram e o acompanharam em sua milenar evolução.
Não tendo outros meios, assim como o cachorro e todos os animais, era guiado por forças modeladoras e preservadoras. Os instintos de preservação e conservação os guiaram por milhões de anos.
Os devas são anjos da guarda, mas são poucos os homens que sentem e acreditam de verdade na invisível presença deles, porque restringiram suas crenças ao que a ciência, e apenas ela, confirma, na tridimensionalidade física. A ciência não explicou a vida, não encontrou a bateria que movimenta o ser humano e tudo que nasce, cresce e perece.
Nisso entra o empirismo, aquele método que pela observação dos fatos, sem confirmação da ciência, conduz a escolha e as ações.
Digo tudo isso para chegar à ivermectina, que não fazia mal a ninguém até surgir a Covid-19. Podia-se ir à farmácia e, com meia dúzia de reais, comprar uma caixinha com uma dose, cujos efeitos como antiparasitário e antiviral perduram por meses.
Nas páginas impressas da BBC, constam os seguintes dizeres: “A ivermectina é um medicamento utilizado há décadas para tratar algumas infecções em humanos – também para combater parasitas em animais, embora sob outra fórmula. Na sua versão veterinária, é bastante indicada para acabar com sarnas em gatos e cachorros, por exemplo. Em estudos anteriores e preliminares, o medicamento se mostrou eficaz também para frear a replicação de alguns vírus, como o da Aids e o da dengue, mas nunca foi aprovado para tratar essas doenças. O que chamou a atenção dos pesquisadores que buscam um tratamento para a Covid-19 é que esses dois vírus possuem uma estrutura parecida com a do Sars-Cov-2. São fitas de RNA simples envoltas por uma capa de proteínas. Por isso, acreditaram que o efeito do medicamento poderia ser semelhante contra esse novo patógeno”.
Na bula do medicamento, as contraindicações são “irrisórias”, o remédio é liberado, mas a Anvisa restringiu sua compra à receita médica. Com isso, dificultou desnecessariamente seu uso, apesar do reconhecido efeito “colateral” de antiviral.
Em Betim, compramos 120 mil doses para distribuir numa campanha “antiparasitária” de olho no efeito colateral antiviral, como recomendado por 20 médicos experientes. Surgiram de imediato forças contrárias e exaltadas. Dá para explicar? Não faz mal a ninguém, e isso é o que mais importa, porque dificultar ou negar aquilo que o empirismo revela e aconselha.
Embora a educação primária na África atinja pouco mais de 50%, e os meios de comunicação sejam os menos difusos do mundo, o desempenho no continente que mais faz uso de ivermectina e que era considerado o mais exposto a risco, a letalidade é muito menor. Apesar de ter 1,2 bilhão de habitantes, as mortes em relação aos Estados Unidos são infinitamente menores até o momento.
Bem, em Betim, a campanha, até ser obstaculizada por disposições da Anvisa, atingiu cerca de 50% do objetivo desejado. Betim, em relação a Contagem e Belo Horizonte, que estavam seguindo a mesma curva, registrou nas últimas duas semanas uma queda de óbitos e de casos, respectivamente, 20% e 10%, em relação às cidades vizinhas. No CTI local estruturado no município, a ocupação de pacientes de Betim, que era de 85% em agosto, caiu ontem para 58%.
Imagino a ira dos “cientistas”, mas me permitam bater palmas aos médicos de bom senso, os empíricos, que ajudaram e ousaram prescrever o medicamento que, adquirido em larga escala, custou em média R$ 0,80 por dose.