Surpresa, sim, mas previsível também. Faltando 20 dias para as urnas se abrirem em Minas, havia ainda 41% de não definidos para governador e mais de 32% para presidente. Embora em outras campanhas os indecisos acabassem por se distribuir proporcionalmente aos definidos, nesta prevaleceu o sentimento de rejeição à Velha Política, a VP. Aquela “coisa” que se acreditava eterna e insubstituível, que manobrou o poder, mas cansou a nação com estelionatos eleitorais.

A atenção dos não definidos estava em escolher o candidato que não fosse “nem um, nem outro”. Nas pesquisas qualitativas dominava a opção de uma “terceira via” que “livrasse o poder público da VP”. Uma situação que deixou, pela primeira vez nos últimos 30 anos, o PT e PSDB em desgraça conjunta com o eleitorado.

Os eleitores tiraram quase todos os réus da Lava Jato da imunidade do foro privilegiado para acelerar a punição. Deu sorte, assim, quem encarnava a NP (a Nova Política); não que esta se apresentasse no momento “melhor”, mas seria a alternativa de aposentação da VP.

Em Minas, quem era o terceiro colocado faltando sete dias, um desconhecido nos ambientes políticos, colheu 41% dos votos das urnas e teve 13 pontos de frente para o segundo, senador e ex-governador tucano. Mesmo filiado a um partido sem um só deputado, com a lacuna de não ter conhecimento de liturgias e relações no ambiente político, foi o “escolhido”. Diria Lula: “Nunca antes na história deste país”.

Ora, os indecisos estavam mineiramente “na moita”, aguardando a forma melhor para tirar de cena a VP, e a tiraram cirurgicamente depois de debates entre acusações que consolidaram o entendimento de uma velha política culpada.

Pesaram o sofrimento e as angústias do povo mineiro, que padece, eternamente em berço esplêndido, da falta de serviços essenciais, de empregos, de salários em dia, assistindo estupefato aos privilégios desregrados de alguns em detrimento de milhões de excluídos. Mais ainda pesaram as dificuldades dos pequenos e médios empresários, dos profissionais, dos trabalhadores atormentados pela burocracia, pela arrogância de um Estado aloprado.

O eleitor está indignado pela maior carga tributária entre todos os Estados do país (determinada pela VP), pelos preços mais altos dos combustíveis e das tarifas elétricas, pelos desperdícios, espoliado por obras megalomaníacas e inúteis (que depois se souberam fraudadas e lesadas pela corrupção) para o cidadão, como a Cidade Administrativa, a reforma do Mineirão, o estádio Independência, a Cidade das Águas, o prédio da Filarmônica em BH, num conjunto que consumiu R$ 4,5 bilhões, exatamente num Estado sem saúde básica, educação infantil, geração mínima de empregos.

As acusações do PT contra o PSDB, e do PSDB contra o PT, deram o sentimento de que seria melhor se livrar dos dois, até porque, por ação e omissão, Minas faliu, perdeu a Fiat, o polo acrílico de Betim, as águas do São Francisco, a fábrica de amônia no Triângulo, a produção da Samarco e milhares de indústrias.

Ruins no poder e na oposição, acabaram pintando um quadro desolador.

Pode Zema perder aqui, em Minas, e Bolsonaro, no Brasil, em 28 de outubro? Improvável, os conceitos estão enraizados em camadas profundas, não se formaram superficialmente nos últimos dias. São respostas práticas à ineficiência, incompetência, insensibilidade que deixaram em frangalhos a nação e o Estado.

A VP cavou sua situação débil, “ouviu” das urnas um brado de “basta”. Basta de agressão à nação que trabalha, basta de um lixo de burocracia, de corrupção. Basta de esperteza, de especulação, de carregadores de mochilas de dinheiro. A maioria decidiu-se a não perdoar. Tem quem acredite que se pode uma Europa, um EUA ou até uma China aqui, sem ter que migrar. Impera a vontade de libertação.

Em Minas não prosperou a imagem do “bom gestor público”, até porque quem vive na vida real sabe que não existe bom gestor “público”. Apenas bom gestor. Aquele que sabe levar ao sucesso. Quem administra bem no privado não erra no público, mas o contrário não é verdadeiro. O público se nutre do esforço dos outros; o privado, do que ele produz.

Dilma quebrou em dois anos uma loja de suvenires e demorou cinco anos para liquidar o Brasil como “presidenta”. A sorte é generosa com quem se alimenta de tributos e taxas dos outros, e impiedosa com quem vive na competição privada. 

Pintou a zebra, ou melhor, deu Zema de última hora, aquele que captou o desejo explosivo do eleitorado que anseia por mudança e não vê saída na VP unificada. A “terceira via” acabou passando pela brecha mais apertada, sem Fundo Partidário, sem tempo de TV, sem participar de debates, sem apoio de mídia, de banqueiros e empreiteiros. Aliás, com todos unidos para explodir a terceira oportunidade. Ainda haverá uma queima de um arsenal de maldades, mas isso parece, ao contrário do pretendido, consolidar a mudança.

Zema, como Bolsonaro, não existe qualquer dúvida, surfam na onda gigantesca da incompetência e do fracasso de quem os precedeu.