No começo da década de 2000, Pablo Lobato e Helvécio Marins dividiam uma ilha de edição. Um amigo de Pablo, Sérgio Borges, passou a também usar o equipamento. Pablo tinha estudado na PUC com Marília Rocha, que tinha conhecido Clarissa Campolina num festival de inverno mineiro, e Clarissa era amiga de Leonardo Barcellos da época de faculdade. Em comum, todas essas seis pessoas tinham como característica um certo isolamento em relação a colegas e às áreas de ofício para as quais formaram. Unirem-se em torno desse isolamento acabou sendo natural. Em 2002, numa casa no bairro Barroca, nascia a produtora Teia.
Dez anos depois, o grupo que rechaça a pecha de coletivo e prefere se autodenominar um centro de pesquisa e criação vai ser homenageado pela CineBH Mostra de Cinema de Belo Horizonte. A celebração se dará amanhã, com um cine-concerto do duo O Grivo (parceiro constante em filmes da Teia) e se estenderá por todo o festival, num retrospecto de alguns dos trabalhos mais importantes realizados pela turma de amigos.
Talvez nossa maior riqueza seja a relação que construímos entre as pessoas aqui dentro, aprendendo a respeitar a individualidade de cada um, aponta Pablo Lobato. Muita gente acha que sentamos numa mesa e decidimos o que fazer juntos, mas isso nunca aconteceu. Cada membro preza sua autonomia e tem seu próprio caminho, vez ou outra colaborando nas ideias dos outros, conta Lobato, frisando o quanto a Teia se configura muito mais na união de afinidades do que em projetos em comum.
Há um ano, a Teia sofreu a perda de Helvécio Marins, que se desvinculou do grupo. Por outro lado, foi incorporada Luana Melgaço, produtora que já vinha atuando em diversos projetos dos membros originais. Nunca pensamos a Teia como uma iniciativa definitiva. Vamos sempre tentando responder às mudanças.
Ensaios. Com saldo de 37 filmes realizados (entre curtas e longas) e mais de 50 prêmios em todo o mundo, a Teia vai reforçar a festa dos dez anos com um livro de ensaios inéditos, a ser lançado também na CineBH e financiado com recursos do Fundo Municipal de Cultura.
Reunindo reflexões sobre os filmes elaborados de cada membros e visões sobre o cinema em geral, a publicação, em edição bilíngue, organização do pesquisador André Brasil e com mais de 400 páginas, tem nomes como Cezar Migliorin, Carla Maia, João Dumans e José Carlos Avellar entre os autores.