No dia 8 de novembro de 1998, durante a Primeira Bienal de Poesia de Belo Horizonte, a cantora Patrícia Ahmaral recebeu um convite inesperado: realizar show em homenagem ao tropicalista Torquato Neto (1944-1972). Com repertório construído pelos poetas Marcelo Dolabela e Ricardo Aleixo, a intérprete, à época, não conhecia com profundidade a obra do piauiense. Tão logo se dedicou ao cancioneiro, sentiu instantânea identificação. Tanto que, agora, passados exatos 20 anos, ela volta a apresentar o show na capital mineira – que inclui sucessos eternizados por importantes nomes da MPB, como “Marginália II” e “Geleia Geral” (com Gilberto Gil), “Mamãe Coragem” (com Caetano Veloso) e “Let’s Play That” (com Jards Macalé).
Repetindo, por obra do acaso, até a data da apresentação de 1998, a cantora mineira radicada em São Paulo, sobe aos palcos na próxima quinta (8) ao lado dos mesmos músicos que a acompanharam naquela primeira experiência: Celso Pennini e Rogério Delayon, na guitarra, violão e arranjos, Thiago Corrêa, no baixo, e Luís Patrício, na bateria.
“São os mesmos que fizeram esse show nascer! Éramos muito jovens e livres. Então, quando a gente relê algumas canções, notamos que ainda são profundamente marcantes para nós”, comenta a cantora. Para ela, o reencontro possibilitou que a essência daquele primeiro show fosse mantida. “Havia uma coisa da juventude, uma espontaneidade grande e, pelas releituras, isso se preserva”, diz.
Reconhecendo que o primeiro show aconteceu mais por conta do convite recebido do que por um anseio genuíno em cantar Torquato Neto, desta vez a iniciativa partiu inteiramente dela. “Por que quero cantá-lo de novo? Por ele ser sempre necessário. É uma voz inquietante, é provocativa, uma voz afirmativa, que faz refletir... Especialmente nesse momento agora, quando este é um gesto bastante necessário”, avalia, completando que o Brasil ainda precisa conhecer e reconhecer tudo o que representou e representa o piauiense.
A cantora ressalta que, apesar de buscar uma mesma essência, esta é uma reedição da apresentação feita em 1998. “O que fiz agora foi incluir canções recentes, como parcerias póstumas e poesias que foram musicadas mais recentemente por outros artistas. Assim, quero demonstrar como sua obra porta essa carga atemporal”, expõe ela, que vai apresentar uma canção inédita de Zeca Baleiro sobre o poema “Jardim da Noite”. O repertório também inclui “Daqui Pra Lá De Lá Pra Cá” (Zeca Baleiro, Fagner e Torquato Neto) e “Quero Viver” (Chico César e Torquato Neto), ambas póstumas.
O show em homenagem ao tropicalista é o primeiro de uma série de Patrícia em BH. Nos dias 20 e 23 de novembro, ela apresenta Mixturação, ao lado de convidados. Na terça-feira (20), Maíra Baldaia e Anthônio fazem companhia à cantora, na sexta (23), é a vez de Regina Souza e Tatá Sympa. Nos espetáculos, canções de Raul Seixas, Luiz Melodia, Maurício Pereira, Lula Queiroga, Chico César, Zeca Baleiro e Walter Franco.
Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto
Sala Juvenal Dias Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Dia 8 (quinta), às 20h30. R$ 30 (inteira).