Embora tenha sido lançado há três anos, o livro “Tudo é Rio” (Quixote Edições) segue rendendo dividendos diários à sua autora, Carla Madeira – principalmente na página do Facebook que leva o nome da obra, onde os comentários são constantes. Maior êxito da casa editorial mineira, o livro, vale lembrar, mereceu elogios de nomes de peso, como Martha Medeiros. Não por outro motivo, a segunda investida da também diretora criativa da agência Lápis Raro no mercado editorial suscita boas expectativas. “A Natureza da Mordida”, obra em questão, terá lançamento neste sábado (8), na Livraria e Café Quixote.
“Há três anos, comecei a ter uns insights de pequenas cenas, e, nelas, fui tentando um exercício de linguagem, de tom de voz, de maneira de narrar uma história”, conta a autora. “E aí os personagens começaram a surgir, e eu com o desafio de fazer com que cada um tivesse um jeito de falar – mas sem me apoiar em algum tipo de cacoete”.
A trama apresenta ao leitor duas protagonistas, Olívia e Biá, que se encontram pela primeira vez num pequeno sebo. “A Biá, por exemplo, é psicanalista, gosta de literatura, mas está em um processo demencial (é mais velha). Queria que o leitor reconhecesse a sua fala, mas não só pelo jeito: também pela temática. E o mesmo com a Olívia. A maneira como cada uma esboça as angústias que sente, as questões que elas trazem à tona... E isso foi construindo esses exercícios de linguagem, que, aos poucos, revelavam que histórias cada uma ia levar ao livro”.
No entanto, Carla admite que a edificação da trama foi mais caótica do que a de “Tudo é Rio”. “Em ‘A Natureza da Mordida’, nos 12 primeiros encontros das duas personagens, a gente não conhece os fatos que se sucederam na vida delas anteriormente, sabe muito mais as consequências. Uma está arrasada com o que acabou de viver, outra, com a tragédia que vem arrastando há anos. Então, gera uma angústia. Só a partir do 13º encontro o leitor começa a conhecer a narrativa, a história propriamente dita”, explica.
O processo de “Tudo é Rio”, vale dizer, foi bem distinto. “Ali, foi um jorro, e o leitor vai ler o livro na ordem em que foi escrito. Aqui não, precisei escrever a história para depois ir nas consequências, mas elas me vinham enquanto estava escrevendo a história... Então, foi bem mais caótico”.
“Tudo é Rio” tem levado Carla aos mais diversos lugares, como clubes de leitura e feiras literárias. Ainda que atue há três décadas como diretora de criação, além de já ter composto músicas, a autora frisa que a experiência da escrita foi avassaladora. “Escrever um livro foi de uma intensidade indescritível”.
E entre os feedbacks aferidos, cita a de um detento de Caeté, que, após uma roda de leitura, no presídio, lhe disse que, após o ponto final da obra, tinha “deixado de odiar”. Ou a da moça que havia perdido dois filhos recém-nascidos. “Ela me disse que, até ali, não estava conseguindo elaborar a dor, mas que o livro a ajudou a organizar os sentimentos. Isso me comoveu demais, fiquei super emocionada”, reconhece.
Carla Madeira lança “A Natureza da Mordida”
Neste sábado (8), às 11h. Livraria Quixote (rua Fernandes Tourinho, 230, Savassi). Entrada gratuita. O livro será vendido a R$ 52,90