A célebre frase de Jânio Quadros: "Bebo-o porque é líquido, se fosse sólido comê-lo-ia" - dita a um repórter que questionava o fato de o ex-presidente beber tanto - ganha um tônus menos irônico atualmente, principalmente, se for dita no balcão de um american bar onde são servidos os chamados drinques moleculares.

Essa tendência da coquetelaria (ou mixologia, como preferem os bartenders mais antenados) nasceu em meados da década de 80, logo depois que cientistas e chefs de cozinha se aliaram para descobrir novas técnicas e instrumentos para desconstruir os alimentos criando novas experiências sensoriais em quem os degustam. "A mixologia molecular surgiu a partir da gastronomia molecular, que estuda as reações físico-químico dos alimentos com o objetivo de apresentá-los com o mesmo sabor, mas com texturas e formas diferentes", explica o bartender Beedoo, sócio-proprietário do Chicletes com Guaraná - único especialista em coquetelaria molecular de Belo Horizonte e um dos poucos no Brasil.

Através da utilização de reagentes químicos, sifões, seringas etc. os bartenders transformam drinques tradicionais em espumas, coqueteis sólidos, pequenas esferas... Ou seja, em experiências sensoriais inusitadas.

Um exemplo de reagente químico muito utilizado pelos bartenders ligados à mixologia molecular é o alginato de sódio, que possibilita transformar líquidos em esferas. É o caso do drinque Bellini (espumante brut com suco de pêssego e cereja). Na versão molecular do bartender Beedoo, o espumante é servido com pequenas esferas de suco de pêssego e xarope de cereja.

"A esferificação, que produz o chamado falso caviar, é uma das técnicas mais simples utilizadas na mixologia molecular", explica Kaká Silva, chef de cozinha e proprietário do primeiro site da América Latina destinado à venda de reagentes químicos utilizados na coquetelaria molecular (www.gastronomylab.com). Formado em gastronomia pela tradicional escola francesa Le Cordon Bleu, ele estuda tanto a gastronomia quanto a mixologia molecular há cerca de quatro anos.

Kaká Silva explica que a ideia de lançar o site surgiu da dificuldade de encontrar matérias-primas e artigos em língua portuguesa. Seu próximo projeto é o primeiro livro editado no Brasil sobre mixologia molecular, que deve ser lançado no ano que vem.