A cerâmica também exerce uma forte atração na vida de Ângela Maciel, que decidiu deixar a carreira de professora de matemática, e o ofício da arte virou sua atual profissão. “Sobreviver da arte é uma tarefa árdua, mas muito prazerosa. A cerâmica tem o tempo dela e exige tolerância, persistência durante seu preparo. Seu apelo é mágico, e, além de ser gostosa de trabalhar, ela me envolve por completa”, afirma. 
 
Atualmente, Ângela possui o próprio ateliê, que fica no bairro Concórdia, na região Nordeste da capital mineira, onde ministra cursos de cerâmica de torno e raku e desenvolve pesquisas em esmaltes. O aprimoramento das formas tornou-se uma busca constante em seu trabalho, assim como a intenção de transformar a argila moldada em obras de arte e utilitários como xícaras, pratos, tigelas, jarras, leiteiras, cachepôs, vasos, pias, entre outros itens. 
 
“Ultimamente as pessoas estão muito envolvidas com a questão da estética, de como a beleza pode estar em evidência nos espaços da casa. E uma peça exclusiva, que sai da linha industrial, tem o seu valor próprio. Acredito que a maioria dos ceramistas possui uma visão bastante sofisticada ao lidar com a cerâmica, principalmente por ser um trabalho artístico. Hoje são apresentadas peças muito bem elaboradas tanto em termos de design quanto nas técnicas usadas durante o processo de criação. Acho bacana ter uma peça diferente, que chama a atenção por si só na decoração”, pontua. 
 
Artistas como a experiente ceramista mineira Erli Fantini, que teve seu trabalho reconhecido por diversos prêmios no país e ainda possui um forno de queima japonesa bizen, único em Minas Gerais e raro no Brasil, é outra que também se surpreende, a todo momento, com as oportunidades que a cerâmica proporciona ao criar novas formas e desenvolver técnicas variadas. Idealizadora da Feira de Cerâmica de Belo Horizonte, prevista para acontecer no fim deste ano no Mercado Central, a iniciativa chega a sua 30ª edição na tentativa de mostrar as novas abordagens da cerâmica como um produto cultural, além de promover e valorizar a liberdade de criação que surge dessa arte milenar. 
 
“O evento vem criando uma força e se tornou um marco na carreira de vários ceramistas, que passaram a atuar profissionalmente e viver do trabalho com a cerâmica. Durante a feira, os próprios artistas comandam seus estandes, apresentando eles mesmos os diferenciais de suas obras ao público, além de trocar informações e ideias sobre tudo que envolve a cerâmica”, comenta Erli.
 
A matéria-prima foi escolhida por ela para desenvolver a maior parte de seu trabalho, que se estende a esculturas de metal e outros objetos decorativos. “A cerâmica é uma matéria maleável, que te possibilita fazer coisas surpreendentes, como transformar algo disforme em um novo objeto e com as próprias mãos”, afirma. 
 
Inspiração cultural
Com mais de 30 anos de experiência em processos artesanais feitos em cerâmica, os artistas plásticos Sandra Braga e Luiz Alberto Nacif produzem peças exclusivas inspiradas na natureza brasileira, na diversidade cultural e nos povos primitivos das Américas, África e Ásia. 
 
De colorido intenso, os desenhos trabalhados nas peças e nos artigos de decoração são unidos ao ouro, à prata e ao couro. “Percebemos que as pessoas valorizam um produto que é a cara do Brasil, que retrata a cultura e as cores do país. A qualidade também é um item fundamental quando se trabalha com peças em cerâmica, uma matéria-prima que nos trouxe a possibilidade de criação, de sobrevivência, de exercitar o desenho e, claro, de construir um grande aprendizado em nossas vidas”, ressalta Sandra.