O remake live-action de Branca de Neve é um dos filmes mais polêmicos dos últimos anos. Antes mesmo de sua estreia nos cinemas, o longa dirigido por Marc Webb já acumulava anos de críticas por escolhas criativas da produção. Grande parte das discussões girava em torno de possíveis mudanças na trama, no elenco e na abordagem de certos temas.

Ao assistir ao filme, porém, o que se vê é uma adaptação que segue, quase passo a passo, a história da animação original — com adições que deveriam servir para dar mais corpo ao enredo.

Mas é necessário contextualizar o que levou este remake ao cenário caótico com o qual foi recebido.


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A clássica cena da Rainha com seu Espelho Mágico (Patrick Page). Créditos: Disney/Divulgação.

 

Cenário conturbado

Tudo começou com a escolha de Rachel Zegler para viver a princesa Branca de Neve. A decisão gerou críticas por parte de fãs mais conservadores, que apontaram a diferença entre a etnia da atriz e a descrição original da personagem.

Além disso, a escalação de Gal Gadot como a Rainha Má também chamou atenção, com comparações inevitáveis entre a beleza das duas atrizes — um tema central na narrativa.

Outro ponto delicado foi o posicionamento de Peter Dinklage, ator com nanismo, que criticou a Disney por continuar com a representação dos anões como alívio cômico. A fala dele abriu um novo debate, com outros atores da comunidade discordando e apontando que a mudança poderia reduzir as já escassas oportunidades de trabalho.

Como resposta, a Disney anunciou que os sete personagens seriam criados por CGI, o que também dividiu opiniões.

Refilmagens, greves e uma divulgação atrapalhada

Com a pressão das redes sociais, a Disney optou por fazer diversas refilmagens. Para piorar, a greve de roteiristas e atores em 2023 atrasou ainda mais o lançamento.

Para completar o cenário, as falas de Rachel Zegler sobre a necessidade de "atualizar" a história original e o contexto político envolvendo as duas protagonistas (com Rachel Zegler assumidamente pró-Palestina e Gadot com histórico ligado a Israel) acabaram dificultando ainda mais a estratégia de marketing do estúdio.

Uma proposta que tenta expandir, sem comprometer a essência

O longa é um musical de fantasia que faz uma releitura da primeira animação da história da Disney e do cinema. No geral, é basicamente a mesma história, com algumas adições de cenas e músicas para aprofundar os personagens e a trama.

O roteiro faz pequenas alterações para adaptar o enredo ao público contemporâneo, mas sem grandes rupturas. Há um esforço em criar mais identidade para o reino, além de dar um papel mais simbólico para a princesa. Aqui, Branca de Neve não é apenas uma dona de casa ingênua, mas uma figura que representa uma ameaça real à Rainha Má, podendo inspirar uma insurreição entre o povo.

Ao contrário do que muitos sugeriram nas redes sociais, o filme não transforma a história em algo irreconhecível. As adaptações feitas não retiram o carisma nem o tom de romance da trama.

A essência permanece: uma princesa boa, que foge de uma tentativa de assassinato a mando da madrasta, encontra abrigo em uma floresta encantada e faz amizade com os anões que ali vivem. O tema da inveja da rainha pela pureza de espírito de sua enteada também continua central — e acaba sendo sua ruína.

O clima de romance é melhor desenvolvido, agora entre Jonathan (Andrew Burnap) e Branca de Neve (Rachel Zegler). Créditos: Disney/Divulgação.

 

Alterações mais consideráveis

As duas principais diferenças estão no papel do príncipe e no desfecho.

A primeira é a repaginada no personagem do Príncipe Encantado. Aqui, o filme apresenta Jonathan (Andrew Burnap), uma espécie de Robin Hood que, junto de seu bando, luta para combater a tirania da rainha.

Já o final abandona a solução rápida da animação original — com a rainha (agora em forma de bruxa) caindo de um penhasco. O beijo que desperta a princesa acontece antes do terceiro ato, transformando o desfecho em uma revolução liderada por Branca de Neve contra sua madrasta.

Branca de Neve inspira uma revolução popular contra a rainha. Créditos: Disney/Divulgação.

 


Mesmo assim, um filme repleto de falhas

Apesar das boas intenções, o filme tem problemas. O mais visível é a simplicidade da narrativa, dos figurinos e algumas conveniências de roteiro (principalmente no encerramento). A montagem, prejudicada pelas sucessivas reescritas, apresenta momentos em que a história parece estacionar para compilar ideias introduzidas posteriormente.

O maior exemplo dessa montagem inconsistente é a trama envolvendo Jonathan e seu grupo de rebeldes. Todas as suas cenas parecem vir de um projeto diferente, que inclusive incluía um plot sobre o resgate do antigo rei em uma terra distante.

Outro problema é a falta de direção das atuações. Cada ator parece atuar em um tom diferente. Enquanto Zegler sofre mais com figurino, penteado e a dificuldade de contracenar com personagens feitos em CGI, Gadot parece até se divertir como vilã, ainda que sua performance seja muito rígida e forçada. O mesmo vale para vários coadjuvantes.

Gal Gadot como a Rainha Má. Créditos: Disney/Divulgação.

 

Com um elenco numeroso, o filme tem dificuldade em dar função narrativa para todos os personagens. No clímax, nem os rebeldes nem os anões têm papel relevante além de preencher o cenário.

Falando nos anões, o CGI usado para criá-los é, talvez, o ponto mais divisivo. Embora seja possível se acostumar, o visual fica perigosamente próximo do chamado "vale da estranheza", o que pode prejudicar a imersão.


Balanço final

Mesmo com os tropeços, é importante lembrar que o público-alvo da produção continua sendo o infantil. Isso não justifica os problemas, mas explica o tom leve e a escolha por uma narrativa direta, com músicas, humor e momentos de fantasia que funcionam para quem busca um filme em família.

Se a ideia é assistir a algo despretensioso, um conto de fadas levemente alterado, o novo Branca de Neve cumpre seu papel. O segredo é ajustar a expectativa e não esperar muito. Não é o pior remake live-action da Disney, mas está longe de ser o melhor.

Onde assistir?

Branca de Neve já está disponível no Disney+.

 

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