Antes do fracasso de Branca de Neve, e do sucesso de Lilo e Stitch, a Disney apostou em uma abordagem diferente para os seus live-action. Em vez de refazer outro clássico, resolveu explorar as origens de um dos personagens mais icônicos de sua história.
Evitando alterar ou substituir a história de O Rei Leão 2: O Reino de Simba (1998) — e comprar uma briga com os fãs dessa sequência —, Mufasa: O Rei Leão funciona como um prequel direto da versão de 2019, com a missão de contar como o rei das savanas chegou ao trono.
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Uma história dentro da história
A trama se desenrola a partir de um conto narrado por Rafiki para Kiara, filha de Simba e Nala, com a companhia de Timão e Pumba. A narrativa volta no tempo para mostrar a jornada de Mufasa desde a infância, passando por traumas, amizades inesperadas e o desenvolvimento de suas habilidades como líder.
Destaque para Rafiki, que rouba a cena com sabedoria e bom humor, além da dupla Timão e Pumba, que remetem diretamente às suas versões divertidas e metalinguísticas de O Rei Leão 3: Hakuna Matata (2004).
Direção mais autoral, personagens mais carismáticos
Sob a direção de Barry Jenkins (Moonlight), o longa ganha um frescor inesperado. Há um esforço claro em tornar a experiência mais autoral, com um maior refinamento técnico. Além disso, é possível perceber um leve ajuste nos visuais, de forma a tornar os animais mais expressivos, principalmente no olhar (algo que foi criticado na versão de 2019).
Essa sensibilidade se reflete também na construção dos personagens. Além do jovem Mufasa, vemos versões mais novas de Scar, Sarabi, Zazu e do próprio Rafiki. Todos eles são retratados com carisma e personalidade, cativando rapidamente a atenção do público.
Outro acerto está na introdução dos novos vilões. O roteiro estabelece uma sensação de ameaça real e constante desde o primeiro confronto entre os lados, dando início a uma perseguição que sustenta a tensão ao longo do filme.
O fardo dos prequels e a simplificação excessiva
Apesar de seus méritos, Mufasa: O Rei Leão carrega dois dos maiores desafios típicos de uma prequel. O primeiro é a necessidade de preencher lacunas que talvez nunca precisassem ser preenchidas, em uma tentativa constante de conectar cada elemento à história original.
Algumas referências funcionam bem, como a montagem de crescimento de Mufasa que ecoa a de Simba, o reaproveitamento de frases icônicas e até trechos musicais discretamente entrelaçados nas novas canções.
Mas em outros momentos, o filme cai na armadilha de responder perguntas que ninguém fez. É interessante conhecer a origem do nome “Scar” ou entender como ele ganhou sua cicatriz. Mas alguém já se perguntou como Rafiki encontrou seu cajado, ou como a Pedra do Orgulho veio a ter aquele formato? Pois é, o filme te explica.
O segundo problema está na simplificação extrema do roteiro. Os diálogos e resoluções são tão didáticos que parecem feitos para garantir que nem a criança mais distraída perca qualquer nuance. O resultado é uma narrativa recheada de conveniências e momentos excessivamente expositivos, que acabam diluindo boa parte do impacto emocional da jornada.
O peso do realismo e a ausência de músicas memoráveis
Apesar dos elogios feitos anteriormente, se você é do time que se incomoda com o visual hiper-realista dos animais, saiba que isso ainda é uma questão aqui. A fidelidade à estética naturalista continua tirando a força de algumas cenas que pedem emoção mais evidente — algo que a animação sempre entregou com facilidade.
As canções também ficam aquém do esperado. Mesmo com o talento de Lin-Manuel Miranda na trilha, as novas composições não conseguem competir com os clássicos que marcaram gerações (mas era uma tarefa bem difícil, também).
Um filme fofo, familiar e previsível
Apesar dos problemas, Mufasa: O Rei Leão é uma experiência simpática e divertida, com uma história que deve agradar toda a família. Mesmo que de forma bastante segura e previsível, é uma obra que fala de legado, amizade e superação.
O filme está disponível no catálogo do Disney+.
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