Na entrevista abaixo, o executivo detalha os principais desafios enfrentados após um ano da criação da Diretoria, além de reforçar as ações para que a Reparação seja o mais ágil e justa possível. “Nosso foco segue sendo o atendimento aos diretamente atingidos pelo rompimento”, garante Klein.
Como o senhor avalia os trabalhos de reparação da Vale até aqui?
Marcelo Klein: As ações de reparação em Brumadinho têm nos ensinado muito. Entendemos que, para contemplar os anseios das comunidades e promover uma reparação ampla, justa e célere, precisamos atuar com muita empatia, sensibilidade e senso de urgência.
Apesar das dificuldades e urgências de adaptação impostas pela pandemia do novo coronavírus, nosso espírito e nosso compromisso com a reparação estão mais vivos e vibrantes do que nunca.
Após pouco mais de um ano dedicados às emergências e aos aspectos mais imediatos das necessidades das pessoas e das regiões afetadas, entramos agora em uma nova fase da reparação: a de entregas de projetos estruturantes que visam promover transformações duradouras para recuperar as comunidades e beneficiar efetivamente a população.
Obtivemos avanços importantes, trabalhamos incansavelmente e temos consciência de que conduzir Brumadinho e demais territórios impactados a uma nova condição é o que a sociedade espera de todos nós.
Queria entender melhor essa nova fase da reparação mas, antes, poderia contar um pouco como a Vale tem feito para dar continuidade a todo o processo em meio à pandemia da Covid-19?
Marcelo Klein: Com segurança, acima de tudo. Seguimos todos protocolos dos órgãos de saúde para que as pessoas estejam seguras para desempenhar suas funções. É o que nossa equipe Jurídica tem feito, por exemplo, com as negociações de indenizações de forma virtual.
A agilidade que a medida tem gerado para o processo tem sido tão grande que já pensamos em adotá-la como opção mesmo após a suspensão das restrições de distanciamento social. Os projetos sociais também encontraram uma forma interessante de seguir unindo e capacitando as pessoas virtualmente. Mas também seguimos com algumas obras em campo.
Por serem emergenciais, como a construção do novo sistema de captação de água da Copasa, elas não podem ser interrompidas. Em todas, adotamos as medidas preventivas de saúde e cumprimos os decretos municipais, estaduais e federais relativos à pandemia.
Gostaria que explicasse um pouco mais os próximos passos da reparação da Vale em Brumadinho e região.
Marcelo Klein: Estamos perto de lançar o Plano de Reparação Integral de Brumadinho e calha do Paraopeba (PRI), que contemplará todas as iniciativas que orientarão o trabalho de reparação e compensação nos próximos anos.
Ao longo de 2019 e nos primeiros meses de 2020, a Vale encomendou estudos independentes de renomados profissionais e instituições, especialistas em gestão pública, recuperação e preservação ambiental, políticas de defesa dos direitos humanos e saúde mental e apoio psicossocial.
Os resultados de todos os estudos desenvolvidos, com a participação do poder público e após uma escuta ativa nos territórios atingidos, foram consolidados e deram origem a este plano. Em breve, apresentaremos a lista dos projetos e programas contemplados.
Gostaria de ressaltar que o PRI será um plano vivo, isto é, outras iniciativas seguirão sendo inseridas para que todos os atingidos pelo rompimento sejam contemplados por decisões que efetivamente gerem oportunidade de crescimento para si e suas comunidades.
Qual a avaliação do senhor sobre o papel da Justiça e a colaboração do governo de Minas em todo o processo?
Marcelo Klein: A Justiça de Minas e as diferentes esferas do Poder Público possuem um importante papel de agente fiscalizador de nosso trabalho na execução das diferentes frentes de atuação da Reparação. Os exemplos são vários.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente cobra um calendário rigoroso de ações de recuperação ambiental, mas também nos apoia no planejamento e execução destas medidas. Entendo que o mesmo raciocínio pode ser utilizado em outras frentes de trabalho, como a humanitária, com o trabalho imprescindível da Defensoria Pública e do Ministério Público de Minas Gerais.
A Vale oferece às pessoas um programa de pós-indenização. Como é isso?
Marcelo Klein: Quando penso no Programa de Assistência Integral aos Atingidos, como ele é chamado, sempre me vem à mente a palavra futuro. A função do programa é permitir que as pessoas que receberam indenizações da empresa tenham, se desejarem, ajuda especializada para planejar o uso desses recursos da melhor forma.
Digo se desejarem porque a adesão ao programa é totalmente voluntária. Muitas pessoas recebem valores vultosos e podem, com esse dinheiro, realizar o sonho de uma vida, seja adquirir uma casa própria, abrir um negócio ou mesmo retomar um projeto que tenha sida interrompido em função do rompimento. Hoje, temos mais de mil pessoas participando.
O que a Vale está fazendo em relação à suspensão da captação de água no rio Paraopeba?
Marcelo Klein: Acabamos de entregar uma importante obra este mês e temos a expectativa de concluir outro ainda este mês. A primeira delas foi a interligação dos dois sistemas hídricos responsáveis pelo abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o sistema Velhas e o sistema Paraopeba.
Mesmo que parcialmente, essa interligação vai aumentar a flexibilidade operacional para a Copasa manobrar os dois sistemas de acordo com a demanda ou problemas em um deles. No fim das contas, a interligação reduz o risco de desabastecimento na região.
A outra obra é a nova adutora de Pará de Minas, que devolve ao município a mesma capacidade de captação de água que ele tinha no rio Paraopeba antes do rompimento. E, no futuro, quando a captação de água no rio Paraopeba for liberada pelos órgãos competentes, o município poderá ter sua capacidade outorgada para captação de água dobrada em relação ao que era antes.
Outra obra importante que estamos comprometidos em entregar é a nova captação da Copasa em ponto não impactado no rio Paraopeba. Esse sistema terá a mesma capacidade da estação atualmente suspensa.
O rio Paraopeba será recuperado?
Marcelo Klein: A recuperação do rio Paraopeba à condição anterior ao rompimento da barragem é uma das nossas prioridades. Implantamos um conjunto de ações que, ainda em 2019, impediram novos carreamentos de sedimentos para o rio e contiveram os rejeitos.
Instalamos estações de tratamento de água que, neste semestre, já devolveram mais de 14 bilhões de litros de água cinco vezes mais limpa, em média, do que o limite estabelecido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente.
Desde o último período chuvoso, identificamos violações aos limites legais para alguns metais, mas verificamos que os níveis desses metais já estão reduzindo progressivamente com a entrada do período de estiagem de 2020, como aconteceu na mesma época de anos anteriores.
Seguimos monitorando 465 km de extensão do curso d’água, de Brumadinho à usina de Três Marias, e todos os resultados indicam que o rio tem condições de recuperação. Vamos continuar buscando soluções que, esperamos, levem à reabilitação do rio Paraopeba e sua biodiversidade o mais rapidamente possível.
O Plano de Desenvolvimento de Territórios Impactados avançou desde que foi lançado, em setembro passado?
Marcelo Klein: Os projetos, escolhidos a partir do diálogo permanente com as comunidades, seguem avançando. Teremos uma entrega importante em Macacos, em agosto, que é a nova escola municipal. Ela vai ampliar a capacidade de atendimento de alunos da região, incluindo ensino fundamental II, que não fazia parte da grade curricular da instituição.
Outra iniciativa recente foi a consulta pública realizada em Barão de Cocais para a própria comunidade apontar o que deve ser incluído no Plano de Compensação que está sendo elaborado para o município. Também contamos com vários projetos em Itabirito, como o desassoreamento do rio Itabirito, que combate um problema crônico de enchentes na região.
Qual a mensagem que o senhor gostaria de deixar neste momento aos familiares das vítimas, já que ainda há 11 pessoas desaparecidas?
Marcelo Klein: A mensagem é a mesma que deixo sempre que me encontro com as famílias. Não iremos descansar enquanto seus entes não possam descansar. Me encontrava, antes da pandemia, quase que semanalmente com representantes da Avabrum, a associação dos familiares das vítimas.
Todo o trabalho que estamos executando, das indenizações à recuperação ambiental, além do empenho para o desenvolvimento socioeconômico de Brumadinho e bacia do Paraopeba, é quase nada perto da dor dessas famílias.
Este sentimento está em cada decisão que tomamos. E esse comprometimento de toda a empresa, mas sobretudo dos quase 500 empregados Vale diretamente envolvidos na reparação, não irá cessar.