O que as periferias de Belo Horizonte esperam como atitudes primordiais do político, ou da política, que vencer as próximas eleições municipais na capital mineira? O TEMPO buscou essa resposta nas nove regionais da cidade e ouviu lideranças comunitárias de diferentes bairros que enfrentam dificuldades na oferta de serviços públicos, entre outros problemas. Conclusão e realização de obras de infraestrutura, soluções para a mobilidade e mais vagas em creches são as principais demandas da população mais carente. A reportagem também foi atrás dos nove pré-candidatos que pretendem disputar o pleito em Belo Horizonte em outubro próximo, para que pudessem responder o que terão a oferecer para as periferias. Entre as promessas de campanha, estão a redução do tempo de espera nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), autonomia das regionais, saneamento básico e mais educação 


Cada representante dos bairros periféricos listou dois pontos considerados mais urgentes. Mobilidade e transporte foi uma prioridade citada cinco vezes, nas nove regionais. Mesma quantidade do tópico obras de infraestrutura, que inclui demandas básicas, como pavimentação de vias e reforma de praças. Vagas em creches vêm em seguida, sendo lembradas por três dessas lideranças. A necessidade de intervenções no saneamento foi citada duas vezes, enquanto segurança e ampliação do atendimento de saúde apareceram uma vez na listagem feita pelos representantes consultados pela reportagem.


João Tonucci, mestre em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca que a periferia é caracterizada por regiões que ficam à margem da oferta de serviços públicos e bens culturais. Por isso, ainda que um bairro esteja localizado próximo ao centro da cidade, ele ainda pode ser considerado periférico. Esse é o caso, por exemplo, de comunidades e bairros mais carentes que margeiam o centro e as regiões que têm melhor atendimento em Belo Horizonte, sem, no entanto, ter acesso ao mesmo tipo de serviço público.


“Periferias são áreas segregadas das cidades brasileiras, que abrigam a maior parte da população trabalhadora de baixa renda e negra. As periferias são territórios distantes e desconectados dos principais centros, e seus moradores são excluídos das oportunidades de emprego, serviços públicos e privados, espaços de lazer e bens culturais. Mas são também espaços de criatividade, expressos na produção cultural local e na diversidade da economia popular”, diz Tonucci. 


Abrangência


Belo Horizonte tem 20% de sua população, ou um em cada cinco habitantes, vivendo justamente nessas áreas consideradas de interesse social, vilas ou favelas, espalhadas pelas regiões periféricas da cidade, de acordo com os dados utilizados pela prefeitura da capital para elaboração do Plano Diretor.


Somadas essas pessoas a todo o montante da população que vive em bairros regularizados, mas afastados dos principais centros, cria-se um enorme contingente eleitoral que pode definir o pleito e faz das populações periféricas um alvo dos candidatos em período eleitoral.


A arquiteta e urbanista Edwiges Leal explica a importância de observar as periferias para o planejamento das cidades. “Essas regiões são aquilo que ‘sobra’ no centro ou está afastado da cidade. Normalmente, no centro, que é uma área de todo mundo, há os teatros, a cultura, mais oferta de infraestrutura, e, nas periferias, sobretudo nas de baixa renda, existem deficiências que refletem a desigualdade social e precisam de solução: questões de educação, de saúde, de saneamento, de mobilidade e infraestrutura”, destaca Edwiges.


Regiões com problemas em comum e individuais


Marcela Souza, moradora do Cabana do Pai Tomás, citou a mobilidade como o maior problema na região Oeste. Ela conta que o local é atravessado por grandes vias, como a Via Expressa e a avenida Amazonas, o que represa e sobrecarrega o trânsito dentro dos bairros. Rafael Frois, morador e líder cultural no bairro São Salvador, na região Noroeste, também indicou a mobilidade como prioridade número um e pede a conclusão de obras já prometidas, como a criação de uma trincheira na praça São Vicente, no bairro Dom Bosco. No bairro Capitão Eduardo, região Nordeste, as carências principais são asfalto, moradias dignas e áreas de convivência, como praças, diz Maria Flor de Maio Ferreira, moradora e líder comunitária no bairro.


Outra reclamação constante é a falta de vagas em creches públicas, segundo declara Fernanda Martins, liderança comunitária da ocupação Dandara, na região da Pampulha. O problema é comum aos moradores da ocupação Vitória, no Izidora, região Norte. No Taquaril, na região Leste, a cobrança é por serviços, como ruas e vias adequadas para o deslocamento dos moradores. 


O investimento em saúde foi a prioridade mencionada por Maria das Graças de Souza Ferreira, moradora do bairro Urucuia e uma das líderes do movimento de moradia popular na região. A segurança foi citada como prioridade por Marcela Souza, moradora do Cabana, na região Oeste. Na Vila do Índio, em Venda Nova, saneamento é o principal problema, de acordo com a líder comunitária Mônica Jesus de Paula. “Existem córregos com problemas em outras regiões, mas aqui a situação é mais grave”, afirmou Mônica.