Em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, o prefeito Paulo Bigodinho (Avante) publicou um vídeo em seu Instagram em que aparece demitindo um médico após ele se recusar a reforçar o atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) São Benedito. O episódio ocorreu no sábado (18 de janeiro) e viralizou nas redes sociais com a postagem do prefeito, que já acumula mais de 2.500 comentários até a publicação desta matéria. Nos comentários, há tanto apoio quanto críticas à atitude do mandatário.
No vídeo, é possível ver o prefeito entrando na sala de descanso dos funcionários da UPA. No começo da conversa, o médico explica: "Não leva à mal não, eu vim dar plantão aqui na sala de urgência. É complicado da gente ficar fazendo esse tipo de coisa, porque a gente vai acabar assumindo uma função que não é nossa, né?".
O prefeito diz: "Pois é. Então não tem como você atender lá fora?". Em resposta, o profissional fala: "não, porque o combinado é o plantão de urgência. Eu trabalho aqui tem um ano mais ou menos e o plantão aqui é de urgência".
A conversa continuou: "Pode estar pegando fogo lá fora que é melhor deixar pegar fogo?", questionou o prefeito. O médico afirmou que o atendimento geral não era sua responsabilidade: "não, não é minha responsabilidade. Minha responsabilidade é a sala de urgência. Foi o combinado".
"Então não tem jeito? Você pode ajudar hoje? Ou não pode ajudar?", perguntou o prefeito. Diante da negativa do profissional, anunciou a demissão: "Então é seu último dia, tá? Obrigado".
Ao sair da sala, o prefeito diz à câmera que o acompanhava: "Santa Luzia agora tem que trabalhar. Se não for para trabalhar, não precisa vir. É o que a gente pede para todos os nossos colaboradores. O médico está lá só para urgência e está lotado lá fora, então se não chegar uma urgência, ele não pode atender? Então para mim já não funciona mais. Esse aí já não vem mais, último dia dele aqui".
Procurada, a Prefeitura de Santa Luzia enviou um posicionamento sobre o caso. Em nota, a administração afirmou que o médico responsável pelo atendimento de urgência estava em descanso durante o expediente e que não há impedimento contratual para que ele atenda os casos mais leves.
"De acordo com o item 1 de seu contrato, não há cláusula que o limite exclusivamente à sala de urgência, sendo permitido o atendimento a pacientes que chegam pela porta de entrada da unidade", escreveram (confira a nota completa abaixo).
Já a Medplus Serviços Médicos, empresa tercerizada responsável pelo médico, informou que o médico em questão foi contratado para trabalhar em
atendimentos de casos de urgência e emergência na UPA São Benedito, de
Santa Luzia (MG).
Nota da Prefeitura de Santa Luzia na íntegra
"Na noite do último sábado (18), o prefeito de Santa Luzia, Paulo Bigodinho (Avante), realizou uma vistoria surpresa na UPA São Benedito. Durante a visita, foi constatado que pacientes aguardavam atendimento desde as 17h. Na ocasião, dois médicos estavam atendendo, enquanto uma médica finalizava um processo de transferência e o médico responsável pela urgência encontrava-se em descanso durante o expediente.
Diante da alta demanda, o prefeito solicitou que o médico da urgência retornasse ao atendimento para agilizar os casos pendentes. No entanto, o profissional recusou-se a atender, mesmo sem qualquer impedimento contratual para fazê-lo. De acordo com o item 1 de seu contrato, não há cláusula que o limite exclusivamente à sala de urgência, sendo permitido o atendimento a pacientes que chegam pela porta de entrada da unidade.
Diante da recusa, o médico foi imediatamente afastado. A decisão foi comunicada ao secretário municipal de Saúde, Rodrigo Gazeto, e à empresa terceirizada responsável por sua contratação, que já iniciou o processo de substituição.
A UPA São Benedito adota o protocolo da Classificação de Risco de Manchester, que organiza os atendimentos por gravidade, priorizando os casos mais urgentes:
Vermelho: Atendimento imediato – risco de vida, como parada cardiorrespiratória.
Laranja: Muito urgente – casos como infartos ou dificuldades respiratórias severas.
Amarelo: Urgente – fraturas ou infecções moderadas.
Verde: Pouco urgente – lesões leves e condições não graves.
Azul: Não urgente – condições menores, como dores leves ou pequenos ferimentos.
Esse modelo garante que os atendimentos sigam uma ordem de prioridade baseada na gravidade dos casos, assegurando eficiência e organização no serviço.
Durante a vistoria, o prefeito esteve em contato com a gestão da unidade para discutir melhorias na estrutura e reforçar as orientações sobre conduta profissional. Todas as informações foram registradas e encaminhadas ao secretário de Saúde para as devidas providências.
A Secretaria Municipal de Saúde reafirma seu compromisso com a qualidade e humanização no atendimento à população. Medidas estão sendo implementadas para corrigir as falhas identificadas e melhorar a estrutura e os serviços oferecidos pela UPA São Benedito".