Cortejada por partidos e políticos de centro, a prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), é considerada uma interlocutora útil junto ao eleitorado de esquerda. Convites para deixar o PT e seguir para outras legendas surgem, mas ela diz que deixar as fileiras petistas não é uma hipótese.
“Já tive vários convites para ir para outros partidos, mas eu nasci com a estrela na minha testa, no meu coração. Toda a minha entrada para o mundo da política foi via PT. Eu sou uma pessoa da origem do Partido dos Trabalhadores, e não está colocado no meu horizonte qualquer desvinculamento com o partido”, diz.
Em entrevista ao quadro Café com Política, do canal O TEMPO no YouTube, exibido nesta segunda-feira (21/7), a petista afirmou, no entanto, que o partido precisa passar por mudanças para manter seu lugar de destaque na política brasileira. “O PT sempre comportou posições mais à esquerda e de centro. Eu diria que sou, dentro do PT, uma pessoa de centro. Hoje, a questão central é de estratégia política. Não se ganha mais a disputa política sozinho”, avaliou.
“O PT não pode ficar apenas com um discurso voltado para os trabalhadores. É para os trabalhadores, é para os empresários, é para os agricultores. Tem que ter um diálogo mais universal. Não pode ser um partido segmentado. Quando o PT tinha esse diálogo mais universal, ele era mais forte. Hoje, o partido está muito comprometido com alguns segmentos, o que faz com que se estreite”, diz.
Questionada se essa mudança de comportamento não desfigura o perfil de esquerda da legenda ela avalia que o diálogo “universal” é justamente o que faz possível os governos de esquerda. “Eu acho, por exemplo, que o Lula e o seu ministro Haddad têm uma posição radical na luta por igualdade social. Eu sou uma pessoa radical nessa luta. Mas o Lula não deixa de dialogar com os empresários. Ele está lá dialogando com os empresários para enfrentar agora a crise internacional provocada pelo Trump. Será que o Lula daria conta de enfrentar isso sozinho”, questiona.
PT ferido
Marília Campos avaliou também o processo de eleição do PT em Minas Gerais, concluído em 13 de julho, após uma judicialização que acabou atrasando a votação dos filiados mineiros. A prefeita contagens fez parte das lideranças petistas que avalizou a candidatura da deputada federal Dandara Tonantzin à presidência da legenda no estado. Contudo, por causa de atrasos nas contribuições partidárias, a parlamentar foi impedida de entrar na disputa. Para Marília, houve um excesso de rigor na avaliação do caso, o que pode deixar marcas nas relações internas do partido.
“Na minha opinião, o PT se equivocou nesse impedimento, agiu com um rigor que compromete um pouco a democracia no nosso partido. Isso arranhou. Muita gente, inclusive, não foi votar. Mas, mesmo a Dandara não tendo ganhado, a nossa articulação teve quase 60% dos votos no diretório estadual”, diz.
Pela primeira vez, Marília Campos, que geralmente evita disputas internas no PT, colocou seu nome em uma chapa para compor o diretório nacional da legenda. Apesar das disputas internas, ela defende que este é o momento para os petistas mineiros buscarem unidade para ampliar sua participação nos debates sobre o futuro da legenda e do governo federal.
“Na minha opinião, o PT se equivocou nesse impedimento, agiu com um rigor que compromete um pouco a democracia no nosso partido. Isso arranhou. Muita gente, inclusive, não foi votar. Mas, mesmo a Dandara não tendo ganhado, a nossa articulação teve quase 60% dos votos no diretório estadual”, conclui.