O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), ligou o “modo candidato” e tem relativizado promessas feitas durante sua primeira eleição, em 2018, para promover a própria presença e imagem por meio de agendas no interior do estado. Entre as mudanças está o uso frequente de aeronaves do estado, prática que Zema tinha prometido “abolir” no governo ao criticar seu antecessor, o ex-governador Fernando Pimentel (PT), que fez mais de 800 voos durante seus quatro anos de mandato.

Agora, contudo, o próprio Zema virou alvo de críticas da oposição por sua presença constante nos aeroportos mineiros. Segundo dados do Portal da Transparência, Zema realizou mais de 70 voos no primeiro semestre deste ano, que permitiram ao governador estar presente em 107 municípios apenas nos primeiros seis meses de 2025 – média superior a uma cidade a cada dois dias e ao menos um trecho aéreo a cada três. Em muitas ocasiões, o governador visitou mais de uma cidade na mesma viagem.

Questionado pela reportagem, o governo mineiro não respondeu sobre os valores gastos nas viagens do governador. De acordo com informações disponíveis no Portal da Transparência, Romeu Zema não recebe diárias por viagens dentro de Minas, ainda que elas durem mais de um dia.

Especialistas avaliam que as visitas ao interior estão diretamente ligadas à pré-campanha de Zema, que já anunciou que pretende ser candidato à Presidência da República em 2026. A pré-candidatura do governador será lançada oficialmente no dia 16 agosto, em evento de comemoração pelos dez anos do Partido Novo, em São Paulo.

“Geralmente, o governador de plantão tem as chaves do cofre, então tem condição de começar a obra, de fazer alguma inauguração, alguma entrega. E, obviamente, de se mostrar para correligionários desse campo da direita (que estão na mira do governador). Para fazer isso em um estado do tamanho de Minas Gerais, ele vai ter que gastar muita sola de sapato”, destaca Robson Sávio Reis, coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas.


Redes sociais

Reis aponta ainda que a movimentação no interior complementa o esforço do governador de ampliar sua presença nas redes sociais com foco em 2026. “Ele tem tido um êxito razoável na empreitada das redes digitais. Inclusive, mudou o assessor na área da comunicação e tem tido um número importante de engajamento e fidelização, principalmente no setor mais à direita. Mas isso, de forma isolada, não adianta, porque esse setor tem uma disputa muito grande. Então ele precisa, como Executivo de Minas, manter uma base de fidelização no estado”, avalia.

O governador costumar divulgar, nas redes sociais, vídeos e fotos de suas viagens pelo interior do estado, que incluem visitas a escolas públicas e discursos em praças. Em Douradoquara, no Triângulo Mineiro, em maio, Zema reforçou a linha discursiva. “Todas as cidades têm exatamente o mesmo tratamento no meu governo. Faço esse trabalho sempre de carro para ver como estão as estradas, como a vida dos mineiros que moram no interior está”, disse, no vídeo.

Presença no interior é crucial para sucesso em eleição estadual

O cientista político Adriano Cerqueira, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), reconhece uma correlação entre o aumento de viagens aéreas de Romeu Zema e o calendário eleitoral. Ele lembra que a presença no interior é fator-chave para quem busca sucesso em eleições estaduais. 

“Belo Horizonte, mesmo sendo capital do estado, não tem uma capacidade de atrair e superar, em termos de forma de identidade, essas outras regiões circunvizinhas. Então, um político que é muito identificado com BH e que não visite demais lugares no estado dificilmente vai ter uma boa chance. A gente viu isso com o Kalil”. E o próprio Zema faz essa crítica: “O que nós tínhamos antes no estado era muito mais governador de Belo Horizonte do que governador dos 853 municípios”, disse em um evento.

Para Cerqueira, a comparação com o ex-governador Fernando Pimentel (PT) ainda favorece Zema. “O Pimentel fazia uso quase que diário e para deslocamentos, muitas vezes ligando BH à casa dele”. Após o mandato do petista, estudo revelou que ele utilizou a frota aérea do estado 868 vezes, muitas delas para fins pessoais – o que resultou em ação do Ministério Público por improbidade administrativa.

 

Regra para uso das aeronaves é clara, mas subjetiva

Não é ilegal que o governador utilize as aeronaves. Em Minas Gerais existe, desde 2005, uma regra que determina as condições em que estas viagens podem ocorrer. “Os voos das autoridades ficam restritos às missões oficiais de representação do governador do estado. Em caráter excepcional, observadas a finalidade e a distância da diligência, a utilização de aeronave em missão oficial poderá ser autorizada pelo chefe do Gabinete Militar do governador, desde que previamente consultado o governador do estado”, prevê a lei.

Contudo, não há um limite do número de viagens ou quilometragem que determinaria as condições para requerer as aeronaves. Por isso, o importante é manter prudência e responsabilidade no uso, destaca o advogado e professor de direito Fabrício Duarte. “Como qualquer recurso público, as aeronaves do estado devem ser utilizadas para finalidades de interesse público, dentro de critérios de proporcionalidade e razoabilidade, que devem ser aferidos no caso concreto. O uso indiscriminado desses equipamentos, sem que exista uma finalidade de interesse público, pode configurar irregularidade administrativa”, destaca.

Para o deputado Ulysses Gomes, líder da oposição na Assembleia Legislativa, as viagens de Zema, cada vez mais frequentes e bancadas com dinheiro público, são tours políticos para turbinar sua pré-candidatura. “Enquanto o povo mineiro enfrenta hospitais colapsados, educação abandonada, estradas esburacadas e a violência crescendo, Romeu Zema cruza o Brasil e o exterior em ritmo de campanha antecipada. Minas não precisa de um tiktoker com ambições presidenciais. Precisa de um governador presente e comprometido com os problemas reais da população”.