O governador Romeu Zema (Novo) "apanhou" de todos os lados ontem na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) após falas tentando se afastar de Jair Bolsonaro (PL) em entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite de segunda-feira (25/8). As críticas foram feitas tanto por parlamentares da direita quanto da esquerda, que também consideraram absurdas as colocações do pré-candidato à Presidência da República em 2026 sobre pessoas em situação de rua.

A tentativa de se distanciar do ex-presidente Bolsonaro, apesar de Zema já ter participado de várias agendas ao lado do líder da direita e de manifestações organizadas nas ruas, principalmente em São Paulo, causou a ira nos deputados estaduais do PL. 

Bruno Engler (PL) foi à tribuna na reunião de ontem cobrar coerência do governador. Ele disse que a “direita moderada” é oportunista e estaria torcendo por uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que deixasse Bolsonaro fora das eleições do próximo ano. 

“Esses atores da direita moderada, esses governadores, eles não entram de cabeça na defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e não articulam para que ele possa disputar as eleições porque, a grande verdade, é que eles querem o Bolsonaro inelegível; a grande verdade é que eles querem ocupar o espaço que é legitimamente de Jair Bolsonaro”, disse Engler. 

A reação de Engler foi uma resposta à fala de Zema no programa negando proximidade com o ex-presidente Bolsonaro. “Eu nunca fui do mesmo partido dele. Em 2022, ele apoiou outro candidato ao governo de Minas, então essa minha vinculação com ele não é tão grande quanto alguns alardeiam”, disse Zema.

Bruno Engler ainda fez críticas à estratégia que tem sido adotada por alguns membros do Partido Novo, o partido de Romeu Zema, para ocupar espaços na próxima eleição. “É um pensamento bem dessa turminha do Partido Novo que é ‘descolar do bozo sem perder os eleitores dele’. Eles fingem que estão com o Bolsonaro, acenam para as câmeras, mas, na prática, estão na torcida que Bolsonaro fique fora do jogo. Mas como já dizia o poeta: quem é de verdade sabe reconhecer quem é de mentira”, disse.

Cristiano Caporezzo (PL) fez coro ao colega de bancada. “A gente precisa de gente que tem coerência e posição. E não de gente que age conforme a conveniência. Está na cara que esses governadores são fãs do ‘ditador careca togado’ (Alexandre de Moraes). Eles precisam do Bolsonaro preso”, complementou.

Para o vice-líder do bloco de oposição, Jean Freire (PT), Zema não vai ter sucesso em tentar se afastar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "O governador é um bolsonarista nato. Em 2018, quando tentou e venceu sua primeira eleição, pediu votos para o ex-presidente durante um debate no primeiro turno. Naquele momento, o Novo tinha inclusive candidato a presidente, o João Amoedo", lembra o petista.

O deputado comentou ainda sobre outro momento em que Zema caminhou com Bolsonaro. "Um dia após vencer o primeiro turno da eleição para o Palácio Tiradentes em 2022, o governador pegou um avião e foi para Brasília anunciar apoio ao ex-presidente, que foi para o segundo turno com Lula", disse Freire. "O problema é que, como o Bolsonaro agora está com tornozeleira, Zema está tentando readequar o discurso", acrescentou o parlamentar.

A assessoria do governo de Minas foi procurada para comentar o discurso, mas não se manifestou até o fechamento desta edição. 

Segurança pública

O deputado Sargento Rodrigues (PL), que tem base eleitoral entre servidores da segurança pública, afirmou que Zema não conseguiu responder perguntas sobre o tema que, na avaliação do parlamentar, passa por graves problemas no estado. Em um momento da entrevista no "Roda Viva", o governador tem um embate com uma das entrevistas sobre dados relativos à crimes graves no estado e acaba não respondendo um questionamento.

"Zema não entende nada de política pública na área de segurança. O estado passa por problemas gravíssimos, como redução no efetivo de policiais militares e de investimentos na PM, Polícia Civil e Polícia Penal", disse o deputado. Conforme o parlamentar, a maior parte dos recursos que chega para o setor hoje no estado é de emendas apresentadas por parlamentares estaduais, federais e de repasses da União.

Esse valor, em 2024, conforme Rodrigues, foi de R$ 330 milhões, sendo que R$ 220 milhões foram de emendas, e R$ 110 milhões do Tesouro do estado. O deputado afirma que, um dos impactos da falta de recursos foi a redução de combustível para viaturas. Em relação ao efetivo da PM, o parlamentar diz que em 2019, primeiro ano do governo Zema, havia 45.434 policiais militares no estado, ante 42.569 em 2024.

Espaço para o diálogo

O líder do governo na Assembleia, deputado João Magalhães (MDB), defendeu que o espaço do parlamento seja utilizado para a construção coletiva de soluções.

"A Assembleia é o espaço da representatividade e da construção coletiva. No trabalho como líder de governo, percebo que o governador Romeu Zema tem mantido uma postura de respeito e responsabilidade, sempre aberto tanto ao diálogo quanto a críticas, que sejam construtivas", disse.  

"O que Minas Gerais espera de nós parlamentares é que utilizemos o plenário para trabalhar por soluções — concordando ou discordando, entre nós e com os demais poderes —, mas sempre levando propostas que realmente melhorem a vida das pessoas", concluiu.