Embora a China seja uma potência quando se trata de minerais críticos e estratégicos, dado o volume de reservas e a capacidade de refino e industrialização, o Brasil já emerge como peça importante na disputa geopolítica por esses materiais, que são essenciais para a transição energética e para o desenvolvimento de tecnologias militares de ponta, como radares e mísseis. Para se ter uma ideia, o país é o segundo no ranking de reservas de terras-raras (23%), atrás apenas dos chineses (49%). 

De acordo com o diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Caio Trivellato, o interesse norte-americano pelos minérios brasileiros – manifestado no mês passado pelo encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, Gabriel Escobar, em reunião com empresários no Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) – indica uma tentativa daquele país de desenvolver a própria indústria de transformação mineral. O objetivo seria justamente evitar a dependência da China para o fornecimento desse tipo de material.

Questionado se os minerais estratégicos poderiam ser utilizados como moeda de troca para negociar a redução ou isenção da sobretaxa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a uma série de produtos brasileiros (incluindo café, carnes e etanol), Trivellato considera que isso seria “plenamente possível”. “Em troca disso, teríamos a isenção de tarifas para o envio de minerais críticos estratégicos”, sugere. 

Nessa corrida, Minas Gerais ganha destaque, em especial pela exploração e exportação do nióbio. Conforme a ANM, em 2024, o Brasil exportou mais de 3,5 milhões de toneladas do mineral. Desse total, 3,4 milhões de toneladas tiveram como origem o território mineiro.

Além disso, o presidente da agência afirma que o estado possui diversas áreas que ainda não foram exploradas, inclusive, em relação às terras-raras. Em Poços de Caldas, no Sul de Minas, a Viridis Mineração e Minerais e a Meteoric Brasil investiram em projetos de exploração do material. 

Porém, o diretor da ANM reforça que o país ainda carece de investimento e financiamento para extração mineral, bem como para tecnologias de processamento para agregar valor aos produtos brasileiros. “Minas Gerais tem a vantagem de ter mapeamentos geológicos mais aprofundados em diversas regiões, ter áreas que estão mais desenvolvidas para determinados minerais”, explica. “Melhorar essas tecnologias e desenvolvê-las no território nacional seria fantástico para o Brasil, mas demanda um financiamento muito grande de cadeia, de indústria e transformação”, diz.

Exploração

O presidente da ANM pontua que o Brasil adota hoje o modelo de concessão de direitos minerários. Ou seja, o minério é propriedade do Estado, mas explorado por particulares, que repassam ao poder público a compensação financeira pela extração dos recursos. Dessa forma, o país não interfere diretamente nas vendas dos minerais. 


Fiemg vai fabricar ímãs de terras-raras

O Centro de Inovação e Tecnologia para Ímãs de Terras-Raras (CIT Senai ITR), inaugurado pela Fiemg em maio, recebeu, na semana passada, a primeira amostra de minerais brasileiros de óxidos de terras-raras. O material foi extraído em Araxá (Alto Paranaíba) pela mineradora australiana ST George. Na prática, a entrega do produto marca a primeira participação de um lote de terras-raras brasileiras processadas no país.

A amostra foi recebida no âmbito do projeto MagBras, iniciativa liderada pelo CIT Senai ITR e que conta com 38 instituições empenhadas em consolidar uma cadeia produtiva nacional de ímãs permanentes à base de terras-raras. O CIT Senai ITR, por sua vez, abriga o primeiro laboratório-fábrica de ímãs e ligas de terras-raras do hemisfério sul. A estrutura, criada pela Codemig, foi vendida pelo governo de Minas à Fiemg em 2023.

Apesar do recebimento da amostra, a federação informou, em nota, que a matéria-prima utilizada pelo laboratório nas atividades de pesquisa e desenvolvimento ainda será, neste momento, fornecida pela China, “enquanto avançam os esforços para consolidação de fornecedores nacionais”.