Com o término das eleições municipais, a Executiva Nacional do Cidadania se reuniu no dia 6 de novembro e fez uma avaliação do desempenho nas urnas. De acordo com membros do diretório nacional ouvidos pelo Aparte, há um sentimento de que a federação com o PSDB, na estreia na disputa para prefeito e vereador, não rendeu bons resultados eleitorais para o Cidadania. Conforme interlocutores, o partido não pretende continuar na federação em 2026, quando se encerra o prazo mínimo de quatro anos de permanência.

Segundo um membro do diretório nacional, que também integra o colegiado nacional da federação, o entendimento é de que as culturas partidárias são diferentes e que o Cidadania enfrentou dificuldades por ser o partido de menor representação na federação. “A gente é o partido minoritário nas direções nacional e estadual, que tem o domínio do PSDB. Então, obviamente que isso também dificultou muito”, disse o interlocutor.

Uma das queixas é que o partido não conseguiu manter nem atrair novos quadros, já que não havia garantias de que poderiam disputar determinados cargos, devido à predominância do PSDB. 

Com isso, segundo as pessoas ouvidas pela coluna, a avaliação é que continuar na federação não seria um bom caminho para o Cidadania, que a princípio não pretende renovar a aliança. No Estatuto da Federação PSDB-Cidadania, é previsto que qualquer uma das siglas pode se desvincular da federação de forma unilateral, desde que respeite o prazo mínimo de quatro anos e apresente uma comunicação formal, acompanhada da ata de deliberação do órgão competente do partido.

Para a Federação PSDB-Cidadania, esse prazo se encerra em maio de 2026, antes do início da campanha eleitoral. Como a união precisa de ao menos dois partidos para sua continuidade, uma possível saída do Cidadania levaria à extinção da federação.

Procurado, o presidente do Cidadania em Minas Gerais, deputado estadual João Vitor Xavier, confirmou que a avaliação do partido em âmbito nacional é que a experiência não foi positiva. “Tivemos muito mais problemas do que soluções”, declarou Xavier.

No Estado, Xavier avaliou positivamente a união com o PSDB, destacando a “relação respeitosa e cordial” com o presidente estadual do partido, deputado federal Paulo Abi-Ackel. “No caso desta eleição, nós não temos o que reclamar. Perdemos algumas cidades que poderíamos ter eleito pessoas na prefeitura, na Câmara, mas eles também perderam outras, cedendo pra nós”, afirmou Xavier.

Por outro lado, o parlamentar lembrou de um choque que aconteceu entre o Cidadania e o PSDB em 2022, quando sua sigla teve que abrir mão da candidatura de Eduardo Costa a vice-governador por decisão do PSDB. Na época, ao anunciar a recusa do convite do governador Romeu Zema (Novo), reeleito naquele ano, Costa atacou o ex-governador Aécio Neves (PSDB) e Paulo Abi-Ackel. “Isso deixou algumas feridas no partido, e será parte de uma avaliação no momento adequado”, disse Xavier.

Ainda segundo o presidente do partido, o Cidadania teria o dobro ou o triplo de candidatos em Minas Gerais se não tivesse tido que abrir mão de candidaturas em várias cidades, como Igarapé, Juiz de Fora, Contagem, Uberaba e Uberlândia. Minas Gerais foi o Estado com o maior número de candidatos da legenda, representando 32% de todo o país, com 1.182 postulantes, mas esse número é menos da metade dos 2.719 candidatos registrados pelo Cidadania em Minas nas últimas eleições municipais, em 2020. No Brasil, o total despencou de 17.539 para 5.036

O número de eleitos também caiu, de 309 para 158 no Estado, e de 1.873 para 493 no Brasil. O presidente defende que o partido caminhe sozinho nas próximas eleições, acreditando que a sigla teria mais a ganhar desta forma em todo o Brasil, mas disse que isso não representa, necessariamente, a vontade da maioria do partido.

Já Paulo Abi-Ackel disse à coluna que a sigla se deu “muito bem” com o Cidadania no âmbito nacional e afirmou que o PSDB vai se empenhar em “superar os probleminhas que acontecem”. Ele ainda disse que o partido está em um “processo de união de esforços voltados para o centro” e pode fazer nova federação ou se fundir com outras siglas.

Sobre o descontentamento do Cidadania na federação, disse que o foco é “superar as dificuldades e tentar manter a união”. “Muitos no Cidadania querem continuar, outros nem tanto, uns poucos de jeito nenhum. Vamos buscando a união do centro”, afirmou.