A decisão do vereador Wagner Ferreira (PV) de se alinhar ao grupo de parlamentares da chamada “Família Aro”, ligados ao secretário de Governo do governador Romeu Zema (Novo), Marcelo Aro (PP), provocou uma tensão em sua relação com os vereadores da esquerda na Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Apesar de garantir que continua alinhado com pautas progressistas, Wagner agora faz parte de um bloco majoritariamente conservador, composto por políticos de partidos como Democracia Cristã, PP, Podemos, Republicanos, Mobiliza e Cidadania. A movimentação causou surpresa entre antigos aliados, culminando na suspensão de Wagner do Partido Verde, legenda à qual ainda está formalmente filiado. A medida foi definida em reunião conjunta dos diretórios estadual e municipal da sigla.
O afastamento do vereador da bancada de esquerda, no entanto, vinha se desenhando desde o início do ano. Enquanto os demais integrantes desse grupo apoiaram Bruno Miranda (PDT) para a presidência da Câmara, Wagner participou da chapa de Juliano Lopes (Podemos), que acabou eleito. Depois disso, o parlamentar passou a se distanciar cada vez mais. De acordo com interlocutores ouvidos pelo Aparte, Wagner saiu do grupo de WhatsApp que reunia os vereadores da esquerda e parou de alinhar estratégias com antigos aliados.
Antes, Wagner tinha apoiado a reeleição de Fuad – mesmo com o deputado federal Rogério Correia como candidato da federação partidária PT-PCdoB-PV –, antes de o partido lançar um manifesto de apoio a Fuad.
Entre os vereadores de partidos de esquerda, como PT, PSOL, PCdoB, PDT, prevalece um sentimento de mágoa e de quebra de confiança. Fontes afirmaram ao Aparte que houve tentativas de reaproximação, mas sem reciprocidade por parte de Wagner. A maior preocupação, segundo um parlamentar ouvido sob reserva, é que o novo alinhamento político do vereador o leve a votar contra pautas progressistas.
Nos bastidores, circula outra explicação para a mudança de Wagner Ferreira: seu projeto eleitoral. Fontes ligadas ao seu gabinete indicam que ele já avalia disputar uma vaga como deputado estadual em 2026 e que, ao analisar sua viabilidade política, percebeu que a Família Aro poderia oferecer um caminho mais promissor para essa candidatura, dada sua força política em Belo Horizonte e em Minas Gerais.
Apesar das mudanças, Wagner Ferreira afirma que sua identidade política permanece inalterada. Em resposta ao Aparte, ele reforçou seu posicionamento como um parlamentar progressista, mesmo após a entrada no grupo de Marcelo Aro.
“A minha relação (com a bancada da esquerda) continua normal, eu tenho minhas posições ideológicas que não vão mudar, isso é um compromisso que eu tenho. Nossa característica não vai mudar, podem ficar tranquilos em relação a isso, e isso foi muito bem colocado com o secretário Marcelo Aro. Sou um parlamentar de centro-esquerda na Família Aro”, garantiu.
Sobre a suspensão do PV, Wagner disse que ainda não recebeu nenhuma notificação oficial do partido. “Eu ainda não fui notificado oficialmente sobre isso, então tenho que aguardar para poder me manifestar”, afirmou.
Wagner Ferreira é o único vereador do PV na Câmara da capital mineira e preside a Comissão de Administração Pública, uma das mais relevantes da Casa. Integra também o bloco Independência Democrática, que se posiciona como independente em relação à prefeitura, embora seu partido ocupe cargos na gestão e desejasse que ele fizesse parte da base.