ALMG

Bancada do PT quer compromisso de Zema com ‘RRF de Lula’

Após Tesouro anunciar flexibilização, petistas sinalizam abertura ao diálogo, mas restante da oposição quer que antes mudanças sejam aprovadas pelo Congresso Nacional

Por Gabriel Ferreira Borges
Publicado em 01 de agosto de 2023 | 07:00
 
 
 
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As concessões do Regime de Recuperação Fiscal (RRF) anunciadas pelo Tesouro Nacional levaram a bancada do PT a defender o compromisso do governador Romeu Zema (Novo) com a remodelagem esboçada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para enfim discutir a adesão na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Uma das principais bandeiras de Zema - senão a principal -, a proposta está parada na ALMG desde que encaminhada, ainda em 2019.

Até então, a bancada fazia oposição ferrenha à adesão, defendida por Zema como a única alternativa para equacionar a dívida de R$ 163 bilhões do Estado com a União, ao RRF, desenhado pelo governo Michel Temer (MDB) e, depois, encampado pelo governo Jair Bolsonaro (PL). “Nós estamos abertos ao diálogo”, afirma a deputada Leninha (PT). “Isso não significa que nós vamos conceder ou vamos nos reposicionar em relação às questões que nós já colocamos”, observa a 1ª vice-presidente da ALMG.

Entre elas, está a resistência às privatizações da Cemig, da Copasa e da Codemig. Caso as propostas do Tesouro sejam aprovadas pelo Congresso, a alienação da participação em estatais deixará de ser obrigatória para ser opcional. “Se o governador vier com a conversa, como está falando, de mudar a Constituição para tirar o referendo sobre a privatização da Cemig, ver com essa posição de privatização da Cemig, a gente fecha as portas (para o diálogo). Na política, tudo é negociação”, acrescenta Leninha.    

A intenção de encaminhar uma proposta de Emenda à Constituição (PEC) à ALMG para pôr fim à exigência constitucional do referendo popular foi admitida por Zema a O TEMPO. De acordo com o governador, a quebra do referendo, ao qual é condicionada a privatização da Cemig e da Copasa, seria o primeiro passo para as privatizações avançarem. “Ela (a mudança na Constituição) é necessária, porque fazer um referendo é algo impossível operacionalmente”, alegou Zema.

No dia seguinte à flexibilização anunciada pelo Tesouro, o presidente estadual do PT, Cristiano Silveira (PT), já havia dito que, a partir de agora, com a diminuição das medidas antes exigidas, a oposição estaria aberta a discutir a adesão ao RRF. “O modelo (do RRF) de Temer e Bolsonaro, defendido por Zema, impunha grandes punições aos estados. (...) Agora, os gastos públicos não ficarão congelados”, apontou, na oportunidade, o deputado.   

Apesar de ter elogiado as alterações propostas, o fim da obrigatoriedade de privatizações, por exemplo, não foi lembrado pelo secretário de Fazenda de Zema, Gustavo Barbosa, após o anúncio do Tesouro. Ao celebrar a adesão "mais simples", Barbosa destacou apenas a utilização do resultado fiscal como metas para os estados, a extensão do prazo de participação de nove para 12 anos e a permissão para a tomada de crédito para pagamento das dívidas mais caras e em moeda estrangeira.

Codemig. Inclusive, a proposta de privatização da Codemig, única enviada por Zema à ALMG até hoje, é oferecida como contrapartida à adesão ao RRF para atender o critério da alienação da participação do Estado em estatais ainda em vigor. Arquivado por força do regimento, o Projeto de Lei 1.203/2019 ficou em banho-maria durante toda a última legislatura até avançar somente após um acordo costurado no apagar das luzes pelo governo e o então presidente Agostinho Patrus.  

À espera de projeto do Planalto, restante da oposição é cautelosa

Já o deputado Professor Cleiton (PV) defende que, antes de qualquer discussão ser iniciada, a oposição a Zema precisa ter acesso à minuta do projeto de lei complementar que será encaminhado pelo Palácio do Planalto ao Congresso. “Ninguém teve acesso à minuta do projeto de lei complementar ainda”, pontua o deputado. “Não tem como a gente afirmar que a oposição vai dar um aceno ao governo Zema sobre o RRF enquanto os termos do projeto de lei complementar não estiverem claros.”

Alinhada a Cleiton, a deputada Ana Paula Siqueira (Rede) observa que é necessário que as mudanças anunciadas pelo Tesouro sejam aprovadas pelo Congresso. “Até que isso efetivamente aconteça, o que vale é o que existe, que é uma proposta real em que o Estado continua tendo que fazer todas as entregas (para aderir ao RRF), ou seja, penalizar os serviços públicos que chegam para a nossa população. Até que as mudanças se transformem em uma realidade, a gente tem que trabalhar com o que existe”, afirma.

Ana Paula acrescenta que as concessões propostas pelo Tesouro, se aprovadas integralmente, melhoram, de fato, o que está hoje em vigência, mas que, enquanto bloco, a oposição vai precisar ter uma discussão profunda. “O bloco é composto por mais partidos. É a Rede e o PSOL em uma federação, mais o PT, o PCdoB e o PV em outra. Acho que aí vai valer a pena um esforço concentrado de olhares de todas essas vertentes partidárias para a gente consolidar uma posição de bloco”, pondera.

A propósito, Cleiton aponta que, hoje, o Estado teria despesas com pessoal abaixo dos 60% da receita corrente líquida, assim como restos a pagar superiores ao saldo de caixa, que são critérios para a adesão ao RRF. “Essa é uma questão fundamental e crucial. Não adianta o Estado querer fazer a adesão ao RRF com o discurso de 2019. A pergunta fundamental: o projeto de lei complementar vai vir também com a modificação dos termos de adesão?”, questiona o deputado. 

Antes mesmo das concessões anunciadas, Zema já havia encaminhado ao Tesouro o Plano de Recuperação Fiscal (PRF), que é o documento de referência das medidas de ajuste fiscal a serem adotadas se a adesão ao RRF for aprovada. Agora, o PRF está sob análise. Questionado em que pé está a avaliação, o Ministério da Fazenda não respondeu até a publicação desta reportagem. 

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