Economia

Cadeira vazia, caixa cheio

Mesmo sem comando fixo desde setembro deste ano, Secretaria de Desenvolvimento Econômico fecha 2019 com R$ 60 bilhões de aportes privados, um recorde em Minas, reflexo de uma mudança na relação com o empresariado

Por Lucas Negrisoli
Publicado em 16 de dezembro de 2019 | 02:42
 
 
 
normal

Depois da crise econômica que atingiu Minas e o Brasil em 2014, o empresariado mineiro tinha o costume de dizer que era só chegar perto da Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, para perder dinheiro. O “ditado”, afirma o secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico do Estado, Adriano Magalhães, não está mais na cabeça dos investidores. O motivo, defende, é a confiança deles no governo e a aproximação do Executivo estadual com o setor, o que deve gerar uma carteira de investimento na ordem de R$ 60 bilhões de aportes privados neste ano.

Só em acordos assinados ou em fase de formalização, há R$ 50,2 bilhões, distribuídos em diversas áreas, que vão desde mineração e energia renovável até siderurgia. A meta inicial da pasta era trazer R$ 45 bilhões de aportes. Além disso, foram gerados em Minas Gerais 124 mil empregos até outubro deste ano, e a secretaria pretende fechar 2019 com 150 mil vagas abertas.

Magalhães ronda a cadeira vazia da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede) – que está sem comando fixo desde setembro, quando o então secretário, Manoel Vitor de Mendonça, pediu demissão do cargo por “motivos pessoais”. Em outubro, o governador Romeu Zema (Novo) anunciou que o engenheiro mecânico Cássio Rocha de Azevedo assumirá o posto, mas a nomeação ainda não ocorreu oficialmente, e o futuro gestor só deve ocupar a cadeira no próximo ano.

Contudo, a ausência de uma liderança clara na pasta não impediu que o governo cumprisse sua meta principal: colocar nas mãos da iniciativa privada todo possível investimento que antes era público. A agenda econômica liberal de Romeu Zema, defendida com garra desde a campanha de 2018, não ficou no papel. Dados da Sede mostram que, durante a gestão de Fernando Pimentel (PT), entre 2015 e 2018, a iniciativa privada investiu R$ 28 bilhões no Estado. O maior nível de aportes de empresas em Minas, até então, era de R$ 52 bilhões, liquidados em 2010, quando o tucano Antonio Anastasia (PSDB) estava no comando do Executivo.

Esse valor foi superado neste ano, e, até 2022, a pasta espera colher outros recordes de investimento privado no Estado – somando ao menos R$ 150 bilhões no acumulado da gestão. A expectativa é alcançar em 2020 R$ 75 bilhões em aportes privados. O plano para os próximos anos, afirma Magalhães, é continuar o que foi feito em 2019. “Estamos incentivando que o privado faça o trabalho que o Estado estava subsidiando”, conclui o secretário adjunto.

Meta é diversificar a matriz econômica

A busca por diversificar a matriz econômica de Minas Gerais, historicamente marcada pela dependência da mineração, foi uma das frentes de atuação do sistema de desenvolvimento econômico que envolve a secretaria homônima e a Agência de Promoção de Investimento e Comércio Exterior de Minas Gerais (Indi).

Com uma carteira de investimento que gira em torno de R$ 150 bilhões, a agência trabalha para que se instalem no Estado setores diversos, que vão desde energia renovável até indústria farmacêutica e aeronáutica.

Fruto disso, explica o diretor-presidente do Indi, Thiago Coelho Toscano, será um aporte de cerca de R$ 50 milhões da companhia aérea Azul em Minas, o que ocorrerá em 2020. Outro exemplo no mesmo segmento foi a cooperação que retomou, com dinheiro exclusivamente privado, o extinto programa Voe Minas, que agora será gerido pela empresa Asta, em parceria com a Azul.

“A metade dos investimentos que conseguimos (no Indi) foi de energia renovável. A matriz demora a mudar, mas conseguimos atrair investimentos que vão ampliar a atuação do mercado em Minas”, afirma Toscano. Além disso, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sede), sem precisar valores, informa que haverá maior investimento em pesquisa e tecnologia nos próximos anos.

 

Minientrevista

Adriano Magalhães
Secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico

Quais foram as primeiras medidas tomadas na secretaria?

O primeiro trabalho foi recuperar o sistema operacional do desenvolvimento. Nos últimos quatro anos, só havia foco em ciência e tecnologia, mas sem o viés de acompanhamento forte. O sistema ficou muito robusto, é composto por várias empresas estatais, desde o BDMG até a Copasa e a Cemig. Quando recuperamos a governança das estatais e reestruturamos esse modelo de desenvolvimento, observamos a diferença. Nessa carteira, nós já formalizamos R$ 24,5 bilhões e estamos trabalhando para formalizar mais R$ 25,7 bilhões até o fim de 2019, com a possibilidade de chegar a R$ 60 bilhões, dependendo do que conseguirmos fechar de negociações até o fim de 2019. São em todos os setores: mineração, energias renováveis, siderurgia.

Qual foi o papel do setor privado no desenvolvimento econômico de Minas em 2019?

Por causa da situação financeira do Estado, perdemos totalmente a capacidade de investimento com verba própria. Porém, como fazer aportes em Minas e atrair empresas nesse cenário? Nosso grande desafio foi atrair o setor privado. Trabalhamos com atores que vão desde fármacos a imóveis, logística, tecnologia em saúde. Estamos conversando com a Fiat para aumentar investimentos e com atores do setor aeroespacial também. Os investimentos, em muitos setores, estavam parados. Foi a confiança no novo governo que movimentou os aportes. Com isso, conseguimos gerar 124 mil empregos no Estado até outubro, com a meta de acabar o ano com 150 mil. Este objetivo, de contratações, é uma ambição pessoal do governador, que nos deu a missão de criar 600 mil empregos até 2022.

O Produto Interno Bruto (PIB) de Minas recuou no segundo trimestre por causa da tragédia da Vale em Brumadinho. Como a mineração afetou o desenvolvimento no Estado?

O PIB de Minas, com relação a dezembro de 2018, teve acréscimo de 0,6%. Nossa meta neste ano é de 1,2% de crescimento, o que, no geral, está dentro do objetivo. Se olharmos no PIB, a mineração caiu 29%. Mesmo assim, mantivemos a economia praticamente estável. Agricultura cresceu, agronegócio cresceu, outros setores também. Mas, apesar das duas tragédias que tivemos (de Mariana, em novembro de 2015, e de Brumadinho, em janeiro de 2019), em termos de volume, não houve diminuição em produção de minério em Minas. O que ocorreu foi uma queda acentuada de preço no mercado externo. A queda no PIB da mineração é mais representativa pelo preço do que pela produção.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!